A fuga dos habitantes do interior, a designada desertificação, é um dos problemas mais graves das economias em desenvolvimento. Inicialmente restrito às carreiras tecnológicas o brain drain alargou-se, entretanto, a todas as áreas do conhecimento, profissões e níveis etários, apesar de se centrar sobretudo nas gerações mais novas. As razões são mais que conhecidas: falta de investimento com a consequente ausência de emprego, a procura de melhores condições de vida e de carreira, a depressão económica e a instabilidade política. Todavia, para as regiões receptoras o brain gain é fabuloso. Estima-se que, de 2010 a 2015, as transferências de recursos humanos tenham rendido às economias dos territórios recebedores um acréscimo de três mil milhões de euros.
Agora acrescente-se a este flagelo, a eucaliptização, a não limpeza de matas, a ilegalidade na reflorestação, aliado à carência de vigilância por parte do Estado e/ou das autarquias, bem como a desresponsabilização por parte da sociedade civil, uma vez preferir assobiar para o lado do que acusar atempadamente, e eis a tragédia na sua exponenciação máxima, a qual temos vindo a assistir nestes últimos dias: os fogos em Pedrogão Grande e concelhos limítrofes. O pior, porém, são as muitas e muitas dezenas de mortes, cuja culpa mais uma vez irá morrer solteira.
Com toda a franqueza, não temos emenda. Todos os anos, Verão sim, Verão não, é sempre o mesmo. Há muito que se sabe que a ausência de pessoas no interior do país e sobretudo a massificação do eucalipto são os principais culpados destas tragédias. No entanto, como a maioria apenas vê cifrões à frente dos olhos, cavamos a nossa sepultura.