Numa sociedade, na qual o cérebro continua – prevejo por pouco - a ter um papel dominante, o conhecimento está maioritariamente organizado em números, factos e conclusões lógicas.
Não é, portanto, de estranhar que, mau grado a popularidade e a curiosidade despertada pela “descoberta” de António Costa e dos esforços para a humanização das relações, principalmente à esquerda – a frase de ontem (aquilo que o PCP não está disposto a apoiar também é aquilo que não estamos dispostos a implementar) terminou com as paupérrimas esperanças que ainda tinha sobre a verticalidade do actual PS -, a sociedade em geral continua muito céptica e a não atribuir à razão grande importância.
As organizações e a sociedade sabem muito bem que é fácil falar, fazer é que é difícil. Por isso, independentemente do maior ou menor comprometimento dos cidadãos, tanta dificuldade existe em compreender como passar das intenções aos actos e valorizar devidamente a relevância das agitações que no nosso interior nos fazem mover nesta ou naquela direcção ou, em última instância, ficarmos parados.
O objectivo de António Costa é simples e há muito que está traçado. Distribuir benesses, mais à esquerda, mas também à direita, – reversão da privatização dos transportes, nacionalização de alguma banca, reposição dos salários e descongelamento das carreiras na função pública, fim dos cortes e aumento das pensões, actualização do salário mínimo, injecção de algum dinheiro na economia, entre outras – de modo a cativar parte do eleitorado que faltou ao PS para a maioria absoluta.
Daqui a um ano, com a maioria dos funcionários públicos, trabalhadores do sector público e pensionistas satisfeitos, lá se há-de arranjar uma crisezita qualquer para o governo se demitir ou ser demitido e zás: eleições. Com a barriguinha cheia, mesmo que os cofres estejam exauridos, os votos lá cantarão para o seu lado.