O assunto que domina este texto não é, deforma nenhuma, a continuação do anterior, apesar de parecer. Este é, antes de mais, um aviso prévio à navegação, principalmente para aqueles que não gostaram do antecedente, de modo a que não desistam da leitura deste.
Afinal, a segurança não é sinónimo de ausência de risco, mas antes a necessidade de, por nós próprios ou através do amparo proporcionado por terceiros, nos acautelarmos face aos eventuais perigos, sinistros ou infortúnios que a todo o momento podem espreitar. No entanto, e tendo em conta que é limitada a capacidade de, pelos nossos próprios meios, nos precavermos das ameaças a que naturalmente estamos expostos na vida, em matéria de saúde, de emprego, no que toca à habitação, aos veículos ou às finanças pessoais, e ainda no que diz respeito ao desempenho nos negócios – compras, alugueres, acções em tribunal, etc. – é necessário, nos dias que correm, uma preocupação acrescida.
Como se costuma dizer “cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. Por isso, valorizada tanta pelas famílias como pelos que vivem sós, a garantia de estabilidade é, não obstante os privilegiados, ainda mais premente em conjunturas de crise como aquela com que o país se debate nos mais variados quadrantes. Não é difícil perceber porquê: é nestes momentos de incerteza que os cidadãos ficam mais vulneráveis e, por isso mesmo, mais necessitam de um abraço amigo.
Se em determinados casos, pelo menos aparentemente, os cenários de maior instabilidade económica, social e, sobretudo, emocional, abonam a favor da relação conjugal, há, porém, o reverso da medalha, i.e., não se deve esquecer o que tal panorama pode acarretar. Dito por outras palavras, outras consequências negativas existirão, às quais o bom senso não poderá ficar imune.
A redução do poder de compra, a diminuição dos rendimentos disponíveis, o aumento dos encargos, a pressão fiscal, a precariedade laboral e social, a retracção da economia e o receio perante a ameaça de maior austeridade são obstáculos inequívocos para determinadas atitudes, levando a que as pessoas – tanto individualmente como corporativamente – tenham maior propensão para alterarem os seus valores e padrões de vida.
Contudo, sendo certo que, em determinada medida, estes pressupostos sejam mais ou menos verdadeiros, também não deixa de ser verídico que as pessoas fazem escolhas e adoptam, por vezes, comportamentos incompreensíveis, já que se aqueles são válidos para uma postura, igualmente o devem ser para todo o modo de vida.
Se a desconfiança pode ser mãe de toda a segurança, é correcto também afirmar que certas estratégias e mudanças bruscas no modo de ser e estar, fazendo tábua rasa de todo um passado em que usufruíram muito mais do que deram, levam ao afastamento, à degradação das relações e a perspectivar novos horizontes.