Todavia, naquele dia não resistiu. E, em vez de se remeter ao silêncio, decidiu investir num debate, parecendo-lhe que o mesmo, à priori, era pacífico. Puro equívoco. Bem sabemos que o entendimento total é impossível. E, mesmo que fosse possível é, igualmente, do nosso conhecimento que tal seria indesejável. É devido à existência de diferenças, de distintos pontos de vista, que o mundo pula e avança
Contudo, também não deixa de ser verdade que, ao arredio de todas as expectativas, a inexistência de acordo de princípios em questões tão basilares, originou, consequentemente, que o seu grau de insatisfação subisse de forma extraordinária. Não havia dúvidas, todos os dias continuava a ser enormemente surpreendido, o que o levou a concluir que jamais conseguiria conhecer integralmente as pessoas.
Depois de ter escorrido a sua opinião, após ter argumentado e contra-argumentado com o melhor que, naquele momento, soube e pôde, e sem conseguir demover a obstinação dos seus interlocutores, retirou-se. E, se é certo que abandonou, não é menos verdade que o fez mais amargurado, aborrecido e auto-flagelando-se com nomes aqui não pronunciáveis. Saiu acabrunhado e vergado como se carregasse, nas suas costas, todo o peso do mundo. Uma interrogação lhe assaltava o espírito: será que os outros não conseguiam descortinar o erro em que persistiam?
Oh, que gente esta! Lamentamo-nos constantemente que este é um mundo cão, mas quando temos oportunidade, nada fazemos para o alterar. Já os antigos diziam: fica-te mundo cada vez pior.
Hernâni de J. Pereira