Época natalícia, tempo de paz, amor e generosidade. Período em que as pessoas se sentem mais pródigas e que a mesa ocupa um lugar central. Contudo, nesta quadra, que se pretende festiva para todos, há um lado menos prazenteiro que é necessário observar e tomar consciência.
Falo, concretamente, da fome. E, para muitas pessoas, a fome e a subnutrição são problemas distantes, que mais não passam de imagens que, por vezes, vêem na televisão, as quais mostram umas crianças com barrigas inchadas, costelas à flor da pele, bem como uns grandes olhos interrogativos e rodeadas.
Geralmente, para essas pessoas, a luta é contra a obesidade, a qual lhes confere uma má imagem, nada atraente para a marketing. E daí a frequência com que persistem em pedalar em health clubs ou correndo pelos passeios e/ou parques até ganharem as linhas exibidas pelas estrelas ou astros das telenovelas.
E, engraçado ou talvez nem tanto, essas mesmas pessoas, quando à mesa, comportam-se como gente civilizada, i.e., deixam sempre um remanescente do bife e das batatas fritas por comer, com o fim de mostrarem que são pessoas bem-educadas. Jamais raspam o prato como vulgares glutões, sôfregos da última migalha ou do derradeiro pingo de molho. E, deste modo, vão desperdiçando comida.
Estas pessoas, normalmente gente bem pensante, olham, com um certo distanciamento, para aquelas que trabalham a terra, produzindo os nossos alimentos, os quais os distribuidores, tão brilhantemente, dispõem nas prateleiras dos supermercados. Pensam sempre que não passam de homens de cara gretada e queimada pelo Sol, de mãos calosas e sujas, algo rudes no trato, sem saber falar correctamente e muito menos conseguindo alinhavar os termos de um discurso mediano.
Por isso, desejo que, neste mundo de Cristo - daqui a três dias comemoramos o Seu (re)nascimento -, possamos olhar serenamente para todas estas incongruências, mesmo que hajam alguns, quais devotos “sacerdotes” de uma pretensa “vaca sagrada”, que proclamem que os alimentos não chegam para todos. Não é verdade, uma vez que se o repartirmos bem e, sobretudo, tivermos consideração por quem os produz, aqueles chegam e sobram.
É necessário fazer funcionar o princípio da subsidiariedade. Não apenas no Natal, mas durante todo o ano.