Esta questão de cortes nos rendimentos salariais ou das pensões, devido às medidas impostas pela troika – leia-se nossos credores –, tem levantado e continuará a levantar uma imensa polémica. A não ser os apologistas de quanto pior melhor, i.e., os que advogam uma política de terra queimada, poucos ou nenhuns portugueses acham que não se devem fazer cortes.
O grande problema é saber onde e/ou como. Já aqui referi, bem como noutros locais, por diversas vezes, que estando a larga maioria dos portugueses de acordo com as medidas de austeridade, também não deixa de ser verdade que são muito poucos os que admitem cortes no seu “quintal”.
Quando confrontados com os aludidos cortes, revoltam-se, indignam-se até limite, chegando ao insulto, senão mesmo à violência. E se lhes pedimos alternativas, ou adiantam que os cortes devem ocorrer noutros lados, esquecendo-se de que nesses locais também existem pessoas que pensam o mesmo, ou, ainda mais grave, entram por uma deriva demagógica.
A deriva demagógica, cujo significado, segundo o dicionário, não passa de um abuso da democracia, ou seja o discurso ou acção que visa manipular as paixões e os sentimentos do eleitorado para conquista fácil de poder político, leva-os a dizer “que a dívida não é para pagar, que os ricos devem pagar a crise, que o sistema financeiro e os grandes grupos capitalistas devem assumir tais custos, que os governantes não devem ter uma frota automóvel ao seu dispor e muito menos motoristas, secretárias, assessores e especialistas”, entre tantos outros dislates.
Uns, por ignorância, usam e abusam desta forma baixa de fazer política, uma vez não saberem que mesmo que os governantes ganhassem o ordenado mínimo, andassem de transportes públicos e fizessem, eles próprios, o trabalho administrativo, isso nada adiantaria em termos de deficit público, outros, apesar de saberem bem daquilo que falam, preferem esconder a verdade dos números de modo a agitarem a tirania das facções populares.
Agora, o que eu queria mesmo é que, ao não aceitarem estas medidas, me dessem uma alternativa credível, exequível e sem falácias.