Já lá diz o ditado e é bem verdade, “não existe fome que não dê em fartura”. Assim é com o tempo, meteorologicamente falando, é claro. Ainda há poucos dias nos queixávamos de que nem Privamera tínhamos, uma vez que o Verão, esse, então, nem vê-lo. Andávamos com frio e chuva, agasalhados até mais não e, como é óbvio, acostumados, desde sempre, a que o clima mudasse conforme o andar das estações, tal reflectia-se no nosso bem-estar, enfim, na disposição com que nos apresentávamos dia após dia. O ar acabrunhado e um quase “humor de cão” era o pão-nosso de cada dia.
E, sem aviso, de um dia para o outro, as coisas mudam. Alteram-se e passam, como o nosso bom povo costuma dizer, do oito para o oitenta. Quando ainda há meia dúzia de dias ansiávamos por calor, eis-nos agora a suspirar por um ar refrescante. O frio que nos obrigou a acender as lareiras para além de meados de Junho, bem como a conservar os edredões nas camas, de um momento para o outro deu lugar à excessiva transpiração, ao não conseguir dormir por causa do calor desmesurado e à vontade de nada fazer, pois o mais pequeno esforço é uma canseira.
Todavia, não foi só o tempo que mudou bruscamente. Vejam a luta de professores: cerca de três semanas de greve às avaliações e um dia de greve geral, em que os nervos estiveram quase sempre à flor da pele, para, num ápice, obtermos uma mão cheia de nada. Para quê tanta verborreia, tanta reivindicação sem sentido, tanto “braço de ferro” mantido de parte a parte, tanta corda esticada até ao máximo, quase em risco de partir, para se obter, quanto muito, uma vitória igual à de Pirro? Como demonstra um inquérito promovido por um jornal diário, nesta luta quase fratricida, ninguém saiu vencedor, isto é, nem o MEC, nem os sindicatos podem cantar de galo. E olhem que perdedores existem muitos: a começar pelos professores que perderam muito dinheiro – abro um parêntesis para dizer que os sindicalistas não fizeram uma única greve às avaliações -, a terminar nos alunos e respectivas famílias que viram a sua vida transtornada quase por completo.
Atenção que jamais direi que a luta dos professores não era e é justa. Repito aquilo que aqui e noutros locais escrevi: subscrevo, desde o início, as verdadeiras reclamações de uma classe importantíssima para o futuro do país e que nos últimos anos tanto tem sido enxovalhada pelo poder político. Porém, uma coisa são as legítimas aspirações, outra bem diferente é a sua instrumentalização e a colocação dos seus ideais ao serviço de uma agenda política bem patente, mas nunca declaradamente assumida.
Acima de tudo, não suporto esforços em vão e, por muito que digam o contrário, autênticas traições, factos que, aliás, já não é a primeira vez que se registam.