Não vivemos somente de recordações, uma vez que o presente e, sobretudo o futuro são factores que servem de alavanca para o nosso dia-a-dia. Todavia, sem aquelas a nossa identidade seria completamente desvirtuada. Daí a importância das mesmas e à medida que os anos avançam elas são cada vez mais importantes, o que é diferente de decisivas.
Na generalidade, procuramos manter, nem que seja como referência simbólica, o espaço e o tempo por onde nascemos, brincámos e nos tornámos homens. A relevância das figuras femininas ou masculinas, dominando com maior ou menor mestria os “ventos que uivavam”, protegendo-nos e/ou aconchegando-nos, não são, de modo algum, coisas de menor valor. Bem pelo contrário!
As memórias, qual jogo em que se cruzam a horizontalidade e a verticalidade, são algo intrínseco a cada um de nós, não sendo por acaso que o mesmo episódio marca de modo distinto duas ou mais pessoas que o vivenciaram.
Uns mais que outros, é certo, mas todos queremos manter vivas as referências que nos marcaram, independentemente da qualidade dos episódios. E quer se trate de formas depuradas, de linhas rectas e simples, quer sejam formatos complexos, para os quais dificilmente ou nunca encontraremos explicações, manda a verdade dizer que são importantes e, por isso, jamais olvidadas.
Resgatar recordações antigas, há muito abandonadas, e convertê-las numa narrativa actual é, por vezes, um objectivo saudável, o qual nada tem de saudosista. Com os olhos postos no passado, nascem frutos de visão futura e afectos em diferentes vertentes. Esta forte ligação, só nossa e íntima, ora nos faz sentir desconfortáveis, como logo a seguir desvanecidos numa imensa ternura, em que os olhos marejam e se avermelham.