Quem ouviu o outro dia a entrevista de Isaltino Morais à RTP1 ficou, perdoem-me a banalidade da expressão, de boca aberta. Então, não é que o homem, depois de ser condenado por tudo o que é tribunal, afirmou, sem qualquer pudor ou rubor facial, que está inocente e que tudo não passa de um enorme erro da justiça. Mais: foi a fortíssima pressão exercida pela maioria da comunicação social que levou os inúmeros juízes a condená-lo. É caso para dizer: coitadinho!
Aliás, aqui para nós que ninguém nos ouve, senão a totalidade, pelo menos a maioria dos condenados em Portugal é inocente, isenta de qualquer culpa, homens e mulheres sem mácula, honestíssimos e extremosos pais, maridos, esposas e filhos(as).
Voltando a Isaltino, o político que chegou a ser o autarca modelo português, o qual já interpôs para cima de setenta recursos e, segundo cálculos feitos por baixo, já gastou bem perto de um milhão de euros, entre honorários a advogados e custas judiciais, temos de aceitar a sua legitimidade à contestação, tal como nós temos direito a vê-lo preso, situação que só peca por tardia. Para além, daquele manter um “diálogo” com a justiça em circuito quase fechado, mercê do enorme poder económico que possui, é indispensável que o poder judicial não se deixe enredar ou, pior ainda, aprisionar, não entrando nos complexos mecanismos psicológicos de vitimização de última hora, mas administrando a justiça em termos de aceitação colectiva, ou seja, em nome do povo.
Para além dos efeitos esperados que a prisão de tal indivíduo representa, as consequências mais importantes, estou certo, irão sentir-se no longo prazo, i.e., quando os resultados se tornaram visíveis na mudança de paradigmas colectivos: a justiça afinal funciona e é igual para todos. Pode, à primeira vista, parecer pouco, mas é um enorme salto em termos de confiança no Estado.