Confesso que, apesar de, imensas vezes, me emocionar e até algumas chorar - sim, porque os homens também choram -, não gosto de ver ninguém com as lágrimas a correr-lhe pelas faces. Bem, a não ser que seja de alegria. O verdadeiro choro é algo que me angustia e me constrange, chegando ao cúmulo de ficar tolhido de movimentos, não sabendo se hei-de consolar se hei-de deixar que o pranto termine por si.
Dizem os especialistas que o choro, por vezes, faz bem, na medida em que limpa o saco lacrimal e, sobretudo, alivia a alma. Não contraponho, já que não tenho dados e muito menos sou perito. Todavia, o certo é que não gosto, para não dizer que detesto.
Por se saber da minha aversão ao choro, confirmo que, mais de uma vez, fui enganado por plangores que mais não passavam de carpir mágoas não sentidas. Bem me levaram à certa, asseguro.
Ninguém chora do mesmo modo e os carpidos têm diferentes motivos e significados, mas, na maior parte dos casos, podem identificar-se os “gatilhos” que fazem despoletar as lágrimas. Nos adultos, pois é para estes que escrevo, as causas mais comuns são a dor, a infelicidade e a raiva provocada pela impossibilidade de dizer ou alcançar algo. Todas estas situações podem acontecer quando existem demasiadas fontes de estímulo, como tensões acumuladas ou movimentos descontrolados. Mais raros, mas também sucedem, são os casos em que o pranto aflora, os olhos humedecem e o fungar do nariz se acentua, por se sentir medo ou expressar ansiedade.
Reconheço que o teor deste texto fugiu do que tinha em mente, já que o que pretendia escrever era sobre o choro de “barriga cheia”. Este, sim, não suporto. E, neste âmbito, quando me refiro a lágrimas não aludo apenas ao sentido literal do termo. Já se sabe que a solidariedade já pouco ou nada vale nos dias que correm, pelo que falar sobre esta ou aquela nossa dificuldade é, de certo modo, como “chorar sobre o leite derramado”, pois à nossa volta não existirá ninguém que não comece, de imediato, a “gotejar copiosamente”, afirmando em tom convincentíssimo que trabalha muito mais, dorme muito menos e passa por maiores dificuldades. Em suma, possui uma vida desgraçada, autenticamente digna dos velhos folhetins que, pelas antigas feiras e mercados, geralmente, os cegos ou deficientes físicos declamavam e/ou cantavam.
Para estes não existe pachorra que aguente. Aliás, não é por caso, que muito raramente me ouvem falar dos meus problemas, pois sei que se o fizer, hipocritamente na maior parte das vezes, ao lado se levantarão autênticos “muros de lamentações”.