Comemora-se, amanhã, o 38º aniversário da Revolução dos Cravos, evento que, há semelhança de muitos outros, vivi de uma forma plena. E, parafraseando a letra de uma canção, também posso dizer que “foi bonita a festa, pá”. Na verdade, foram tempos extraordinários de alegria, de análise, de discussão e de aprendizagem democrática, tal como, igualmente, foi um período de muito temor pela deriva que os militares, afectos ao PCP e seus satélites, tentaram levar o país. Basta lembrarmo-nos do PREC para imaginarmos que, hoje, podíamos ser a Cuba da Europa.
Por isso, não é de admirar, bem pelo contrário, dizer, alto e em bom som, que os militares de Abril foram e continuam a ser dignos da nossa admiração. Contudo, não nos podemos esquecer que, simultaneamente, também muito mal fizeram ao país. As nacionalizações, o estabelecimento de uma Constituição que aponta para o socialismo (!!!), o coartar do desenvolvimento da sociedade civil, principalmente através do Conselho de Revolução, foram factores nefastos ao país, cuja factura, presentemente, ainda pagamos.
Manda a verdade dizer que a maior parte das comemorações do 25 de Abril que, ano após ano, se realizam, há muito deixaram de fazer sentido. Quem é que ao ver na TV a cerimónia transmitida, em directo, da AR não muda de canal? Quem é que, por este país fora, ainda tem “pachorra” para integrar manifestações de apoio? Só os saudosistas de uma opção que o povo, nas urnas, por meio do seu livre voto, sempre rejeitou.
Por isso, a polémica de que a Associação 25 de Abril, Mário Soares e Manuel Alegre não se associarão, amanhã, às comemorações oficiais, é uma claríssima falsa questão. É o demonstrar, antes de mais, de uma preponderância que não têm, um colocar-se em bicos de pés que, denota, falta de formação cívica e pouco respeito pela livre escolha dos portugueses.
Aliás, apenas o povo é dono do 25 de Abril e, nesta ordem de ideias, aqueles fazem lá tanta falta como a viola num enterro. Então, a argumentação para justificar a sua ausência, principalmente a de Mário Soares, é de bradar aos céus. Diz este que “o actual governo está a dar cabo do estado social e, por isso, não representa os ideais de Abril”. Sinceramente, é ocasião oportuna para dizermos que pessoas existem que não se enxergam, para além de pensarem que possuem o rei na barriga. Se existe político que deu cabo do estado social, por meio do aumento da dívida pública, de um despesismo atroz, de uma política job for the boys, foi Mário Soares. Bem os seus compagnon de route não lhe ficaram atrás e, nessa ordem de ideias, ajudaram à festa. Ou pensa que nós já nos esquecemos das inúmeras viagens que fez enquanto presidente da república, onde até às Seychelles foi – bem, não admira, pois é um lugar de forte emigração portuguesa (!) -, do caso Emaudio, da corrupção de Macau, da Fundação Mário Soares, dos bens públicos que ainda, hoje-em-dia, continua a usufruir, bem como tantos e tantos outros casos gravíssimos?
Ou será que alguém tem dúvidas que se estamos a atravessar uma tão grave crise económica, a maior parte da responsabilidade cabe aos socialistas? Não nos esquecemos que nos últimos quinze anos, os socialistas nos governaram durante treze. Por outro lado, não foi Mário Soares que, por duas vezes, solicitou a intervenção do FMI, cortando salários e subsídios? Não foi nos consulados de Mário Soares que o então Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, se revoltou, afirmando que o povo passava fome e vivia em condições miseráveis, tendo, por isso, sido apelidado de bispo vermelho?
Não há dúvidas que existem pessoas que têm a memória curta.