É ponto assente a existência de alguma apatia na sociedade portuguesa. O amorfismo tomou conta de muita gente, chegando a ouvir-se, a muitas pessoas, “tanto me faz como me fez”. A nível de “grandes” manifestações, onde o número de sindicalistas e apaniguados partidariamente – há décadas que são sempre os mesmos - as protege, ainda, com algum esforço, lá vão e até gritam, sem grande convicção, é certo, as mais variadas e estupidificantes palavras de ordem. Agora, a nível local, onde o isolamento é quase lei, é rara aquela que, com galhardia, oferece o corpo às balas. A maioria queda-se por sussurrar as suas queixas, falando baixinho e, simultaneamente, observando se alguém está a ouvir, não vá o Diabo tecê-las. No entanto, a amargura e desconformidade com a sua forma de ser e estar continua. A desmotivação é um facto, já que incapazes de enfrentar “o quero, posso e mando” local, limitam-se a varrer o lixo para debaixo do tapete, numa tentativa de o esconder, uma vez que, repito, se sentem incapazes de o jogar, cara a cara, a quem de direito.
E é pena, pois é no local de trabalho que as condições de prepotência e de favorecimento mais se manifestam. Lugar onde, hoje-em-dia, se ouve, por exemplo, dizer – pasme-se! – “antes não podiam ordenar isto e aquilo, mas agora podem”, querendo, com isso, legitimar a indignidade. Para além do desconhecimento da lei que, aliás, sempre manifestaram, esta e outras posições de igual jaez, denotam, acima de tudo, uma subserviência total. Sinais dos tempos!
Por isso, reafirmo que muito mais importante que participar em manifestações públicas, as quais também não desvalorizo, bem pelo contrário, é necessário ser sério na prossecução dos objectivos e, sobretudo, demonstrar que não se está disposto a trilhar todos e quaisquer caminhos. Ora, para tal, é preciso uma vasta e sólida formação, não só científica e pedagógica, como, e de modo algum menos importante, legislativa, que sirva de suporte diário. Caso contrário, balouçará, qual ramo verde, nas suas convicções, vacilará na defesa dos seus direitos e, pior ainda, falhará na sua missão.