Bem pior que a inimizade entre o bom e o óptimo é o calculismo que se pode instalar entre inimigos íntimos que disputam os mesmos amores, sejam eles os favores do eleitorado, sejam eles a compreensão dos aliados mais bem posicionados e poderosos. Aliás, como bem nota, em “Último Volume”, Miguel Esteves Cardoso: é com desagrado que se tem desenvolvido muito em Portugal uma modalidade desportiva que julgara ter caído em desuso depois da revolução de Abril. Situa-se na área da ginástica corporal e envolve complexos exercícios contorcionistas em que cada jogador procura, por todos os meios ao seu alcance, correr e prostrar-se de forma a lamber o cu de um jogador mais poderoso do que ele. Este cu pode ser o cu de um superior hierárquico, de um ministro, de um agente da polícia ou de um artista. O objectivo do jogo é identificá-los, lambê-los e recolher os respectivos prémios. Os prémios podem ser em dinheiro, em promoção profissional ou em permuta. À medida que vai lambendo os cus, vai ascendendo ou descendendo na hierarquia.
Ora, apesar de saber que, muitas vezes, prego no deserto, só posso acrescentar que a tentação de “curvatura” é incompatível com o superior interesse ético do Homem, enquanto ser íntegro e vertical. Aliás, não há proveito que deva prevalecer mesmo quando, por questões de conveniência pessoal, se reconheça que o bom deve ser alterado, como acontece tantas vezes por simples capricho.
Por outro lado, manda também o bom senso e as melhores práticas, que a urgência na aceitação dos consensos alcançados, deve impor-se, em nome das soluções possíveis, pelo menos em matéria de sustentabilidade, venham elas de onde vierem, mas mais ainda quando os motivos diferenciadores são insignificantes face ao que realmente importa.