Os menos jovens recordam-se, com toda a certeza, dos suspensórios. Esse velho acessório de vestuário masculino, muito usado antigamente, sobretudo, pelos mais anafados, remete-nos para um tempo de prazer e, porque não dizê-lo, igualmente de luxo.
Por outro lado, também em tempos que já lá vão, os cânones de beleza feminina, em que a cintura de vespa, obrigava a cuidados redobrados, o espartilho, peça de vestuário que apertava – oh, se apertava, segundo consta! – nas costas com uma violência que hoje diríamos brutal.
Estes casos, hoje considerados caricatos, vieram-me à memória a propósito dos professores. Em tempos não muito distantes, apesar de nunca termos sido gordos, quase que nos podíamos comparar com os velhos mestres de ofícios, profissionais liberais, empresários e banqueiros - aqueles que geralmente usavam suspensórios -, uma vez que éramos reconhecidos e pagos tendo em conta o real valor que prestávamos à sociedade. Como se costuma dizer no Norte, um professor era, naqueles tempos, um senhor.
Bem, os tempos mudaram, e apesar de continuarmos a prestar um serviço indispensável e altamente responsável, hoje-em-dia, independentemente do sexo, todos somos obrigados a usar espartilho, o qual, aliás, fazendo jus à história, se inspirou no corsolete, peça que, nas armaduras medievais, protegia o tronco.
Assim, poucos são aqueles que diariamente não se sentem metidos num espartilho, qual colete-de-forças: são os coordenadores, muitos deles armados em pequenos tiranetes, são os directores através das suas diatribes, género quero posso e mando, é a ADD e as suas mil transmutações, são as múltiplas reuniões e quejanda papelada, são os serviços centrais e regionais do ME, são os pais, são as autarquias, a maior parte das vezes, mais papistas que o Papa. E podia continuar a enumerar outros “apertos”, só parando para não me tornar fastidioso.
Enfim, um quase constante desconforto que nos coloca vermelhos – nada tem a ver com os mouros de Lisboa - de raiva, pois a tentativa de nos emagrecer é tal que um dia destes corremos o risco de estarmos todos anorécticos.