A vida tem destas incongruências. Sempre se soube, e hoje os media ajudam a observar melhor, que um homem passa de bom a besta na mais pequena fracção de segundo. Já o contrário, apesar de também se verificar, é muitíssimo mais raro e o tempo de mudança é extremamente lato.
Então, no caso concreto dos políticos, o axioma anteriormente citado, acentua-se mais e de um modo muito acutilante. Os políticos são bons desde que não toquem nos meus interesses, isto é, desde que não invadam o meu quintal, pois, caso contrário, não dão tiros, mas sim bazucadas nos próprios pés. Tudo isto me faz lembrar a questão da incineração/tratamento dos lixos, assunto já abordado neste local em anteriores textos. Todos sabemos que aqueles, igualmente por nós produzidos, necessitam de ser tratados. Até aqui, nada a opor, uma vez que não existe qualquer discordância. O problema coloca-se quando se começa a indagar onde isso poderá ser feito. Aí, perdoem-me o plebeísmo, “é que a porca torce o rabo”. A resposta é sempre a mesma: em todo o lado menos ao pé da minha porta.
Sempre fomos e infelizmente continuamos a ser um país de coutadas e de um corporativismo feroz. Mais: aqueles que no tempo da “outra senhora” criticavam o corporativismo do Estado Novo, são, presentemente, os maiores defensores das respectivas agremiações, independentemente da existência ou não de enodoadas valias. Vejam-se os casos de defesa acérrima feita pelos sindicatos relativamente aos seus feudos, não querendo saber se isso afecta – a maior parte das vezes gravemente - os interesses dos outros e do país, bem como a impossibilidade de se julgarem os médicos, advogados, juízes, professores, entre tantos outros profissionais, pois, nestes casos, com raríssimas excepções, a respectiva classe une-se para os defender, por muito que todos saibam da sua culpa.