Somos um país sui generis. Apesar de possuirmos, muitas vezes, e de forma denodada, conceitos e atitudes perfeitamente dispensáveis, a verdade é que, também, somos capazes do melhor. Pena é que estes últimos casos sejam escassos. Ou melhor, sejam em número menor do que as posturas ineficazes.
Por exemplo, quem cumpre os requisitos e está dentro da lei não deveria precisar de percorrer o “caminho das pedras” de um velho “calvário”. Bem pelo contrário. No entanto, infortunadamente, não é o que se passa. É que, para além da inveja de quem tem sucesso na vida, um péssimo hábito que nos atinge maioritariamente, desconfiamos sempre do vizinho, do colega e até do amigo, enfim de todos que vemos ser bem sucedidos.
E, nesta ordem de ideias, logo comentamos, se não denunciamos mesmo, que tal pessoa só pode ter o que tem, porque teve tonos menos honestos. Querer saber se a pessoa em causa implementou ou não processos e métodos mais eficazes, se trabalhou mais e, sobretudo, de forma mais eficaz, isso não. Preferimos duvidar dos outros do que informarmo-nos e tomar as mesmas medidas. No fundo, em termos de metodologias de trabalho e, principalmente, de eficiência no desempenho, optamos quase sempre por um nivelamento por baixo. Já no que concerne aos resultados, porém, somos sempre os primeiros a achar que merecemos o primeiro lugar, a maior promoção, isto para não falar dos que pensam merecer uma casa em condomínio fechado, andar em automóvel topo de gama, fazer férias nos melhores resorts, frequentar os melhores hotéis e restaurantes, por muito que nada façam para isso.
Aliás, deixem-me dizer que, para além de conviver mal com o sucesso dos outros, bem pior é o facto de admirarmos quem não cumpre a lei, bem como o “chico-esperto” que consegue ludibriar o fisco. Mais: detestamos aquele que cumpre e faz cumprir a legislação, estando, à mínima possibilidade, prontos a apeá-lo. Não é por acaso que adoramos que seja aplicada a máxima – negativa, direi eu - de que “a lei não pode ser aplicada de forma cega”. Verdadeiro princípio para abertura de toda uma série de excepções, com os consequentes atropelos à lei, dos quais a nossa sociedade é tão pródiga.