Gosto de percorrer os grandes centros comerciais, tal como adoro frequentar o pequeno comércio e os micro-serviços. Quem já se imaginou sem a sua florista, a sua cabeleireira ou o seu barbeiro, o seu sapateiro, a sua peixeira ou, até, o seu cauteleiro? São homens e mulheres que, sem denotarem grande visibilidade, nos fornecem relevantes préstimos.
Estes profissionais, grande parte deles, com perfil empreendedor, capacidade para gerir um negócio – maioritariamente sozinhos, isto é, sem ajuda de especialistas e/ou empregados –, demonstram, ainda, um sentido de responsabilidade bastante assinalável. No fundo, sabem que o sucesso depende muito mais de si do que da conjuntura, pelo que a vida desregrada, a ausência de hábitos de trabalho e as dificuldades de relacionamento são palavras que não existem no seu dicionário.
Por outro lado, a sua formação, infelizmente, assenta muito mais num saber empírico do que didáctico, tanto mais que aquela, em termos de oferta pública, é quase inexistente ou mesmo nula.
E como começaram? A maioria das pessoas não faz a mínima ideia de como e em que circunstâncias aqueles iniciaram a sua labuta. Se não é fácil iniciar uma profissão, independentemente do seu métier, encetar um negócio por conta própria é, sem sombra para dúvidas, um autêntico “Cabo das Tormentas”.
O arranque do projecto – falo de experiência feita - depende do profissional ter ou não um bom plano de negócios, assim como um report devidamente estruturado. Na posse destas ferramentas, começa verdadeiramente o calvário. Logo que aquelas sejam aceites pelas instituições oficiais - são tantas (!) -, e a não ser que tenha fundos próprios, facto raríssimo nestes casos, há que contactar com os bancos, pois é necessário algum (!!!) investimento para iniciar a actividade.
Impressionado o gerente do banco, os trabalhos não se concluem por aqui. O local, já edificado ou a construir, com todas as licenças e vistorias, é algo para fazer perder a paciência a um santo. A perseverança é o melhor antídoto. Deve recordar-se diariamente de que pode perder uma ou outra batalha, mas que, no final, há-de ganhar a guerra.
Concluída esta fase, há que produzir - bem e ao menor custo possível -, assim como angariar clientes, o que, nos tempos que correm, não é fácil, e esperar algum retorno do dinheiro investido, facto que, na maior parte das vezes, só acontece ao final de dois ou três anos, senão mais. Até lá, há que trabalhar, trabalhar e … ter fé.