Em tempos que já lá vão era importante passar aos filhos uma “enxada”, isto é, uma ferramenta, um utensílio de trabalho, que permitisse a autonomia de vida, a realização pessoal através do ganha-pão e, de algum modo, uma forma de estabilidade.
Hoje há pais, felizmente uma minoria, que não têm os mesmos objectivos. E, para todos, é claro que o número de jovens que também comungam destes infaustos ideais é, nos tempos que correm, muito maior. Já lá dizia o poeta: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,/Muda-se o ser, muda-se a confiança;/Todo o mundo é composto de mudança,/Tomando sempre novas qualidades.
Todavia, não são apenas os maus exemplos transmitidos de pais para filhos que, infelizmente, vigoram hoje-em-dia, pois uma parte substancial dos nossos governantes e chefias dão, constantemente, um espectáculo pouco digno.
Veja-se, por exemplo, o que se passa nos designados mega-agrupamentos em que as unidades de ensino, por estarem mais ou menos afastadas do “poder” central, vivem numa espécie de limbo, quase em permanente auto-gestão, não recebendo instruções – e quando as recebem é tarde e a más horas - e sem que lhes seja dada qualquer autoridade de decisão. O placard da sala de professores, outrora constantemente a abarrotar de tanta informação, chegando ao cúmulo de se retirar alguma antes de decorridos os oito dias de afixação para que nova coubesse, agora passam-se semanas, meses e … nada. Nada também não é bem assim, pois as convocatórias para as reuniões lá vão aparecendo. Será que não chega qualquer informação relevante à sede do mega-agrupamento que seja do interesse de todos os docentes? Ou será que apenas é afixada na sede, obrigando, os que não exercem funções nesta, a deslocarem-se aí? Se assim é que o digam abertamente. De entre muitos, outro exemplo: quantas vezes o conselho pedagógico já reuniu? Das respectivas minutas apenas foi afixada a primeira, datada dos inícios de Setembro p.p., a qual, aliás, já tem barbas, não se cumprindo, deste modo, o estipulado no respectivo regimento interno. A quem interessa o desconhecimento? Ou será que apenas os excelsos e mui dignos membros daquele órgão possuem a suprema sabedoria para terem conhecimento de tão elevados assuntos?
Será que tais erros e incúrias se deverão à falta de pessoal? Não, não pode ser. Para quem “herdou” funcionários de três serviços administrativos não se pode queixar de falta de recursos humanos. O defeito está noutro lado …
Voltando ao tema inicial desta crónica, concluirei que, actualmente, para além de não se dar qualquer “enxada”, esconde-se – vá-se lá saber porquê - o modo como se cava.