O que era previsível há pelo menos meia dúzia de anos tornou-se hoje-em-dia notícia diária. Refiro-me concretamente à falta de professores. O ataque extraordinariamente brutal a que a classe foi sujeita desde a famigerada Maria de Lurdes Rodrigues, com o consequente abaixamento do prestígio social dos docentes, bem como a desvalorização dos respectivos ordenados e sem esquecer os anos de serviço congelado, levaram a que os alunos após a conclusão do ensino secundário não optassem pelos cursos superiores via-ensino E aqueles que ainda escolhiam esta via eram, quase sempre, os de menor classificação.
Parece que actualmente as coisas estão a mudar e as vagas do ensino superior para esta área foram, na primeira fase, todas preenchidas. Congratulo-me por tal.
Todavia, até que estes estejam em condições para dar aulas, vamos erguer ao céu lamentos flamejantes e haverá por alguns anos muitos alunos do ensino básico e secundário – e os pais - a perorar pela falta de professores.
Ora, sem colocar em causa a formação pedagógica, sou de opinião de que se deve abrir a possibilidade de lecionação a indivíduos com boa habilitação científica e adequada às diferentes disciplinas. Tal fica-se a dever a ser de opinião que mais vale um aluno, p.e., do 7º ano, ter aulas com um licenciado em Física, mas sem a aludida formação pedagógica, do que passar meses e meses “a ver navios”. Mais tarde haverá certamente possibilidade de lhes ministrar a tal formação. Aliás, existem ainda no ensino imensos docentes cujo percurso profissional assim foi. Eu sou um desses casos e conheço inúmeros outros.
A recente abertura do ME à possibilidade de doutorados, investigadores e professores aposentados pode resolver casuisticamente esta ou aquela situação. No entanto, a questão de fundo não será resolvida, uma vez não estar a ver, p.e., um professor aposentado voltar à escola, sabendo que a maioria estão muito cansados e o que irão receber poderá ser quase todo absorvido pelo IRS.