Hoje comemora-se o cinquentenário do 25 de Abril, Dia da Liberdade. Já estudava em Coimbra e com a maturidade dos meus verdes 17 anos participei, tal como muitos outros, neste dia festivo e nos seguintes, sobretudo o primeiro do 1º de Maio, comemorado em liberdade, no velhinho Estádio Universitário, ali em Santa Clara.
Estive presente na libertação dos presos políticos na sede da antiga PIDE/DGS, na Antero de Quental, quase em frente ao ex-Quartel-General, tal como participei na tomada de posse das actuais instalações do ISEC, na Quinta da Nora. Se gritei palavras de ordem? Claro que sim. Se sabia muito bem o que estava a acontecer e o que realmente isso implicava? Mais ou menos, respondo. O conhecimento e a respectiva pressuposição destes e de outros episódios só mais tarde os adquiri. O muito que li – vem daí o gosto imenso pela leitura do jornal e dos livros -, os imensos debates em que participei deram-me a bagagem que, em 25.04.1974, de todo não possuía. Recordo com nostalgia os vespertinos Diário de Lisboa, o A Capital, o Diário Popular, entre outros, adquiridos, nas Cantinas Velhas, junto do Teatro Gil Vicente, ao mais carismático ardina da velha Coimbra, meio cego, mas com língua afiada, o saudoso Teixeira. Abro um parêntesis para lembrar outra figura dos meus tempos de estudante e concretamente da Praça da República, o Totonas. Aquele e este, quando espicaçados era um regalo vê-los e ouvi-los.
Voltando ao 25 de Abril e a algo que sempre me fez muita confusão: como é que no próprio dia da Revolução dos Cravos e principalmente nos dias seguintes surgiram, de um pé para a mão, tantos antifascistas? Como é que hoje-em-dia – é o que observo na TV - aparecem tantos ex-militares, na casa dos setenta e poucos anos, que participaram activamente ao lado dos capitães de Abril, sobretudo ao lado de Salgueiro Maia? Milagres que o oportunismo propicia.
Todavia, uma das grandes conquistas de Abril foi a tolerância. Sejamos, pois, tolerantes.