O primeiro-ministro, António Costa, alertou esta segunda-feira que a suspensão do acordo de cereais por parte da Rússia é uma "muito má notícia" que pode levar a uma "crise alimentar à escala global". Estas palavras e outras declarações semelhantes proferidas também por vários dirigentes europeus e não só não causam espanto a ninguém. Sendo a Ucrânia o grande celeiro da Europa, este embargo, a manter-se por algum tempo, irá, sem margem para dúvidas alterar os preços dos cereais, rações e produtos similares, levando consequentemente ao aumento do pão e das carnes.
Em tempos que já lá vão, por estas bandas todos semeavam cereais, sobretudo milho. Não havia terra de rega e/ou de sequeiro que ficasse em poisio. Com o surgimento das reformas, ainda que exíguas – bem, a maioria também nada descontou para tal, apesar de para isso terem possibilidades -, as pessoas com mais de 65 anos deixaram praticamente de produzir algo substancial. Quanto muito, cultivam pequenas courelas onde “lavram” uma pequena horta, com a qual produzem tomates, pepinos, feijão verde, batatas, couves e pouco mais. Apenas para consumo próprio. Deixaram de cevar o porco e nem frangos querem criar. Actualmente a esmagadora maioria dos terrenos produz amoras silvestres ou matéria-prima para celulose.
Hoje numa aldeia - como esta -, essencialmente rural, somos apenas três as casas a produzir o dito cereal. Que dá muito trabalho e acarreta imensos sacrifícios é uma verdade indesmentível. Por exemplo, ainda hoje, pelas seis horas já tinha a moto-bomba a regar, por aspersão o cerca de meio hectare que semeei. Sim, como os entendidos sabem, a rega deve ser realizada pela manhã ou à noitinha.
É evidente que, nestes tempos de incerteza que atravessamos, sabe muito bem ter conhecimento que, para o próximo ano, terei as arcas cheias com vista a poder matar dois porcos e criar à volta de 120 frangos nesse espaço temporal. Esclareço que os familiares e amigos também comem.