Há três semanas a divulgação, pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, da lista de nomes de abusadores foi um acto de coragem, lucidez, uma lufada de ar fresco e, no dizer da D. José Ornelas, uma pedrada no charco cujos efeitos não poderiam ficar encerrados entre quatro paredes.
Eis que, na sexta-feira p.p. reuniu a Conferência Episcopal Portuguesa e, no meio de pareceres entre conservadores e progressistas dentro da Igreja Católica Portuguesa, os mais retrógrados, aqueles que sempre preferiram varrer o lixo para debaixo do tapete, levaram a melhor, de tal modo que o recuo e as afirmações de alguns bispos, como foi o caso do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, foram, no mínimo, vergonhosas, para não dizer que foram um atentado à nossa inteligência.
Vir dizer que só receberam uma lista de nomes e que apenas o Vaticano pode suspender um sacerdote é, para além de mentir, continuar a colaborar com os abusadores.
Já hoje Daniel Sampaio, afirmou que “não é verdade que é só uma lista de nomes”, esclarecendo: “a lista foi obtida a partir das denúncias de vítimas – em que a vítima X diz que foi abusada pelo padre Y – e da investigação resultante do Grupo de Investigação Histórica junto dos arquivos. E a lista que foi entregue resulta da junção destas duas”. “Quando o Cardeal-Patriarca diz que a Igreja não tem dados não é verdade”, afirmou o psiquiatra, que sublinhou: “Não é uma lista de nomes que caiu do céu”.
Por último, acrescento que qualquer pessoa com o mínimo de lucidez, sabe que a suspensão não é uma condenação. É importante suspender porque, do ponto de vista psiquiátrico, há grandes probabilidades de estas pessoas repetirem o comportamento. A suspensão é preventiva para averiguação e se não se averiguar nada, retoma. Não me parece legítimo que uma pessoa que esteja sob suspeita possa continuar a exercer o seu ministério.