Aqueles que, dentro do universo dos portugueses, se deram ao trabalho de ler o programa do governo, na sua totalidade ou em parte, são uma minoria muito escassa. Gostamos todos de dar palpites, sermos treinadores de bancada e, sobretudo, especialistas em “achismos”. A formação e a procura de informação credível, em vez de nos guiarmos pelo mais ligeiro que surge nas redes socais, dá muito trabalho e trabalho é algo que a maioria dispensa de bom grado. É só observar o que diz a esmagadora maioria dos portugueses, quando entrevistados a propósito do que fariam se lhes saísse o Euromilhões: “ajudava os familiares, viajava e gozava a vida”. Muito, mas mesmo muito, raro é aquele que diz que investia e tentava criar riqueza para ele e, sobretudo, para o país.
No que concerne ao Ensino – ver pág. 22-23 e 141-142 - o programa deste governo, ora discutido na AR, senão é de arrepiar para lá caminha. Para além de acentuar a municipalização e o regresso encapotado dos professores titulares – chamam-lhe agora chefias intermédias -, o que já, por si, é muito mal, existe a tentativa torpe de acabar com as retenções até ao final do 3º CEB e reduzi-las fortemente no ES. Ora, se este último item fosse tentado à custa de um reforço de incentivos de vária índole, tais como apoios financeiros aos pais, bem como ajudas didáctico-pedagógicas aos alunos, maior e verdadeira autonomia escolar, entre outros, a maioria dos docentes estava de acordo. Agora com medidas meramente administrativas?
A disciplina e a ordem na sala de aula não são absolutamente fundamentais para a classificação dos discentes, mas que ajuda e tem um peso muito grande é uma verdade irrefutável. Costumo dizer que um aluno meu que estude minimamente e, simultaneamente, tenha um bom comportamento, um modo de ser e estar na sala de aula correcta, tem positiva. Ao contrário, um discente tecnicamente muito bom, mas que passa a vida a infernizar a vida do professor e dos seus colegas, não aprendendo, nem deixando aprender, tem negativa, como forma de castigo.
Agora, quando se fala tanto de violência nas escolas, deixar de ter qualquer efeito dizer a um aluno “ou tens outras atitudes e, assim, apresentas valores mais nobres, ou, caso contrário, tens negativa”, é completamente estapafúrdio.