A expressão designada pós-verdade ganhou foros de habitualidade. O que era um facto de ontem, verdadeiro e indesmentível, passe-se o pleonasmo, passou, nos dias de hoje, a ser contado de forma distinta, invertendo autenticamente o ónus da prova. Os que no passado cometeram toda uma série de crimes, passaram agora a ser virgens autenticamente inocentes, bem como aqueles que se sacrificaram pelo bem comum são actualmente apelidados de malandros, reais selvagens, isto para usar uma linguagem muito soft.
Aqueles que, por opção, quiseram andar na filha-da-putice, por ser essa a sua verdadeira índole, em vez de trabalharem e, sobretudo, sacrificarem -se por si e pelos seus – sim, não tenhamos medo das palavras, já que uma vida não é vivencial sem oblações -, passam agora a justificar as suas atitudes com a observância dos enormes tempos de crise que passámos há muitos e muitos anos, querendo fazer crer que os anos que vivemos, desde sempre, foram de apuro.
A falta de vergonha não tem limites. Aliás, já os antigos diziam que “uma pessoa sem vergonha acha que todo o mundo é seu”.