Durante as últimas décadas, os sucessivos governos, mas sobretudo a sociedade, usaram e abusaram dos professores, assim como das respectivas mais-valias, sem se preocuparem com a degradação junto da opinião publicada - p.f., não confundir com opinião publicada. A preservação do património natural/científico/tecnológico, pertencente inequivocamente à docência, foi lançada “às urtigas”. Tempos não muito longínquos, senão mesmo agora, todos os agentes sociais se arvoravam no direito de ser leccionadores de tudo e mais alguma coisa. Mais: o métier de tal era perfeitamente desvalorizado, inclusive pelos próprios. Quem não se recorda de haver instrutores a gabarem-se de somente trabalhar uma dúzia de horas por semana e ter três meses de férias?
Portugal enfrenta, hoje-em-dia, os desafios de um ensino característico de qualquer país subdesenvolvido, por muito que os nossos governantes digam o contrário. A eficácia da resposta pressupõe profundas alterações no estilo de vida e nos modelos de desenvolvimento vigentes, o que implica uma mudança clara de atitudes e a adopção de comportamentos que permitam estabelecer uma relação mais saudável e equilibrada com a sociedade.
Cada um de nós representa uma peça do puzzle e, através de pequenos gestos diários, podemos desempenhar o papel que nos cabe: prevenção e minimização dos riscos quanto ao analfabetismo. Sim, porque nos dias que correm não basta ler e escrever. A interpretação de um simples mapa é uma dificuldade sentida e sinónimo daquele.
Por isso, a presente luta dos professores - apesar de não me tocar monetariamente, uma vez já estar no último escalão – deve ser uma batalha de toda a sociedade, i.e., alunos, pais e restante comunidade. Somente com docentes “presenteados” com um estatuto condigno – condições de trabalho, salário, respeito, força e dedicação – poderá elevar o país mais alto. Alguém tem dúvidas que se queremos ter bons médicos, engenheiros, advogados, gestores, etc., etc., temos que lhes dar mestres de bem consigo próprios e com o mundo que os rodeia?