Tal como, hoje em dia, comumente se afirma, é um dado adquirido que aquilo que se passou entre 2005 e 2011 não foi apenas um caso ou outro de corrupção, uns mais graves que outros, é certo. Foi, na realidade, muito mais que isso. Houve, efectivamente, um assalto ao poder, uma tentativa do dominar o Estado, ainda que sub-repticiamente. Colocou-se - e as provas estão à vista de todos – em causa o regime.
O PS não pode lavar as mãos como Pilatos e simplesmente distanciar-se de uma ou outra figura de proa daquele período de governação, tanto mais que muitos de hoje estiveram e defenderem acerrimamente aqueles anos. Recordam-se das palavras de um ministro da altura e hoje segunda figura do actual governo afirmar, alto e em bom som, que “quem se mete com o PS leva”?
Os socialistas não podem continuar a refugiar-se na ética republicana – seja lá o que isso seja -, que superiormente reclamam como sua e, por isso, se auto-isentarem constantemente de culpas. Não são melhores nem piores que os outros. Todavia, refugiando-se numa moral superior, pensam que podem fazer tudo e mais alguma coisa pois a sua condição distinta os eleva a patamares que os comuns dos restantes mortais não têm condições de julgar.
Nesta ordem de ideias, enquanto o PS, como há muito clama Ana Gomes, da qual discordo tantas vezes, não efectuar a análise de que não é a porta divina do reino de tudo o que é bom, ao contrário de todos os outros que, segundo a sua distorcida óptica, não passam de uns malfeitores, a democracia corre perigo. E não é pouco.