Tem-se, nos últimos tempos, registado descrispação e descendimento na sociedade? É evidente que sim. Os motivos são fáceis de entender. Por um lado, porque o governo atendeu algumas das reivindicações dos trabalhadores, fundamentalmente do sector público; por outro, porque os sindicatos, os quais como é do conhecimento geral, são comandados pelo PCP, encontram-se anestesiados, por via da amarração deste partido à política geringonçal.
Assim, não é de estranhar que a maioria dos portugueses e até muitos empresários, os quais, de modo algum, comungam das ideias programáticas dos partidos que suportam este governo, se sintam satisfeitos.
Recordam-se das greves, mandatadas por tudo e por nada, sobretudo do sector dos transportes, os quais colocavam sistematicamente o país de pantanas? Pois é! Existiram e infernizaram a vida de muita gente, principalmente a que vive e trabalha nas grandes cinturas industriais. Agora é a paz dos anjos.
O governo de Passos Coelho foi acusado, até à insanidade, de querer ir além da troyka. Não se falava de outra coisa. Bem, este governo foi além dos ditames da CE – veja-se a questão do défice -, demonstrando, pelo menos nas reuniões em Bruxelas, que é um “bom aluno”, e o que acontece? Uma declaração ou outra, perfeitamente inócuas, por parte do BE e do PCP, de modo a que, de hoje para amanhã, não se diga que nem a boca abriram.
Protestos, acções de rua, manifestações é de vez em quando e quanto muito para que se diga que os sindicatos ainda existem e justificar (mal) o muito dinheiro que recebem. Greves? Nem falar nisso é bom. Até arrepia aqueles que ainda há tão pouco tempo faziam prática disso vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Atente-se nestes dois exemplos. Ontem, António Costa afirmou que, devido à sustentabilidade da segurança social, não podia permitir que os trabalhadores com quarenta anos de desconto se pudessem reformar sem penalização. O Programa de Estabilidade e Crescimento não prevê qualquer actualização salarial dos funcionários públicos durante os três próximos anos. Colocadas estas questões à vista de toda a gente, observaram alguma indignação? O que aconteceria se fosse o PSD a governar?