Imaginemos dois casais de idosos. Um, para além de ter trabalhado dia e de noite, como se costuma dizer, criou e educou os filhos o melhor que pode, dando-lhes formação superior, ferramentas que permitiram que estes ascendessem a estar hoje “muito bem na vida”. Este casal, para além disso, viajou o mínimo, contentando-se com pouco mais do que aquilo que a terra e Deus lhes deu, aforrando o máximo possível todos os tostões. Ano após ano, lá foi amealhando um pecúlio que lhe permitiu adquirir algumas terras, aumentando, deste modo, o parco património que herdou.
O segundo casal, constituído de modo algum por malandros, limitou-se a trabalhar para o dia-a-dia, fazendo aqui e ali umas tainadas, por vezes um luxozito também era adquirido e as viagens não eram assim tão poucas quanto isso. Enfim, gozou a vida. Sem dívidas, mas sem poupanças, lá criou os filhos sem lhe incutir o espírito de sacrifício que apenas pelo exemplo é adquirido. Estes não chegaram a “doutores”, mas conforme se diz na gíria, lá se vão governando.
Entretanto, ambos os casais, quando chegados aos sessenta e muitos anos de vida, reformaram-se. Com carreiras contributivas baixas, é lógico que as respectivas pensões também não poderiam ser altas. Assim, ambos são aconselhados a solicitarem o Complemento Solidário para Idosos.
Resposta do Centro Nacional de Pensões: o primeiro nada tinha a receber uma vez ser detentor de património e filhos a auferirem um salário médio ou médio-alto. Ao segundo, pelo contrário, foi-lhes atribuído um determinado valor extra, já se ter provado não possuirem outras fontes de rendimento e os seus descendentes auferirem pouco mais que o salário mínimo.
É necessário dizer mais? Tenho a certeza que não. E depois ficamos todos escandalizados quendo nos acusam de só querermos “copos e gaijas”? Passe a boçalidade e o exagero da expressão, ela também encerra em si alguma verdade. Aliás, não é por acaso que dizemos comummente que beltrano e sicrano só querem é “… e vinho verde”.