Deparamo-nos, amiúde - mais vezes que gostariamos -, com situações caricatas e muito tipicamente lusas. Por exemplo, há uma delas que particularmente me irrita: deparar-me com o estacionamento de um carro em segunda ou terceira fila, com os quatro piscas ligados … e os outros que se governem.
Ontem mais um desses casos aconteceu, tendo-se formado uma enorme fila, com buzinadelas e muita impaciência à mistura, como é óbvio. Passados uns minutos, chega a condutora – aqui para nós, que ninguém nos ouve, valeu a pena esperar para ver tanta beleza -, acena com a mão, em jeito de desculpa, entra no carro e parte para a sua vida. E, pronto, aguenta Zé!
Neste compasso de espera deu para pensar na analogia entre este comportamento selvagem que, afinal, até é muito concordante com o procedimento das nossas classes da nobreza, da classe política, do futebol e dos eternos “tachos” públicos.
Se durante o Verão percorrermos a maioria das nossas aldeias e vilas é comum observar o gasto de dezenas ou centenas de milhares de euros nas suas festas anuais e ou em feiras/exposições disto ou daquilo. Os palcos são imponentes, as luzes atravessam os céus à noite, provocando uma espécie de “aurora boreal” ou chuva de estrelas, isto sem falar do barulho que por ser tanto não se dança, nem se consegue ouvir o que os cantores dizem.
Depois chega a altura do Natal e Passagem de Ano, com a azáfama das compras, diluída pelos canais televisivos, os quais repetem incessantemente festas e ceias, que no fundo são todas iguais, não sendo populares e muito menos tradicionais, por muito que digam o contrário.
Neste contexto, falar de desemprego, do aumento da dívida, da morte anunciada do paradigma económico e social - via Trump e não só - parece-nos deprimente. Na verdade, segundo uma amiga minha, são assuntos que só interessam aos “chatos”.
Ora, neste encadeado, o que há de comum nos temas que abordei? Bem, talvez seja desejar ter uma vontade igual à da condutora inusitada, i.e., largar tudo em qualquer lugar e não me preocupar com nada nem com ninguém.