Nas últimas semanas surgiram, ainda que timidamente, algumas boas notícias nos meios de comunicação social. Por um lado, os indicadores de clima económico e de confiança dos consumidores recuperaram ligeiramente. Por outro, registou-se nova queda do desemprego. É certo que são dados relativos ao terceiro trimestre do corrente ano, i.e., meses de forte tendência turística, em que, sobretudo, a área dos serviços se sente fortemente favorecida.
Todavia, é triste ver como determinadas pessoas embandeiram em arco, fazendo a festa, deitando os foguetes e ainda apanhando as canas. Esquecem-se de que todos estes factores, positivos é certo, necessitam de ser consolidados e não é por um trimestre positivo que o saldo do ano irá ser esplendoroso.
Num ano em que Portugal irá atingir – as previsões para isso apontam – os objectivos do défice, não deixa de ser caricato – estou a ser benévolo - que a dívida pública atinja limites nunca antes alcançados, ou seja, superior a 133% do PIB. Para os mais leigos, isto quer dizer que mesmo que conseguíssemos juntar toda riqueza que o país produz num ano, não gastando o que quer que seja (salários, bens e serviços), vivendo literalmente e na prática do ar, não conseguiríamos pagar a totalidade da dívida, uma vez que ficariam ainda 33% por pagar. Ora, numa altura em que os nossos juros continuam a crescer a olhos vistos – já vão quase nos 4% - em vez de diminuirmos a dívida, aumentamo-la. Assim, não admira termos a segunda maior dívida da EU.
É evidente que a maioria anda contente, para não dizer um tanto e quanto eufórica. Pudera! Têm mais dinheiro e sentem o ambiente político mais desprendido. Por isso, não admira que até assobiem para o ar. Aliás, já lá diz o ditado “tristezas não pagam dívidas”. Alegrias também não, mas que importa, “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.
Não quero ser ave de mau agoiro e muito menos proclamar aos quatro ventos que vem aí o Diabo. Mas que o tempo da “porrada” há-de chegar não tenho a menor dúvida. Não há almoços grátis. Não se pode distribuir aquilo que não se criou. Dar e abundantemente aquilo que se vai continuamente pedir lá fora, não é estratégia inteligente, é estupidez, a qual mais cedo que tarde, havemos de pagar. Com ou sem novo resgate logo se verá. Mas que pagaremos, pagaremos e, mais uma vez, com língua de palmo.