Podem dourar a pílula, chorar baba e ranho, gritar loas sem fim, afirmar que foi o pai do povo cubano, que elevou a instrução e a saúde dos seus concidadãos a níveis exponenciais, entre outros epítetos elogiosos. Todavia, para a história da democracia, tal como a concebemos e sempre sonhámos viver, Fidel não pode ser caracterizado de outro modo que não seja ditador. Ponto final parágrafo.
O luto, decretado após a sua morte, pode durar imensos dias ou até várias semanas, estando o “povo” obrigado – não tenhamos medo das palavras – a prestar-lhe homenagem. Aliás, ai daquele que falte nesta hora, pois acontecer-lhe-á o mesmo que sucedeu a muitos outros que, enquanto vivo, se recusaram prestar-lhe culto, i.e., a prisão, o degredo e o assassinato.
Não é por acaso que, por estes dias, nas redes sociais, se afirma que todo o comunista enseja ardentemente ser um novo Fidel, ou seja, governar sozinho uma ilha com milhões de servos fiéis.
Observe-se, por outro lado, a que chegou o fanatismo dos seus apaniguados, os quais continuam, apesar das ténues aberturas, a dirigir aquela ilha caribenha com mão-de-ferro: na televisão cubana não é permitido dizer bom dia, boa tarde ou boa noite enquanto durarem as exéquias. Presumo que publicamente as pessoas também estejam proibidas de dizer algo semelhante.
Ontem, em crónica publicada no Público e assinada por João Miguel Tavares, perguntava-se, e bem, do porquê de chamar ditador a Salazar e a Pinochet – algo que pessoalmente não me repugna – e apresentar pruridos no uso do mesmo epíteto relativamente a Fidel? Só porque aqueles não lideraram revoluções de esquerda? Que se saiba não assassinaram tantas pessoas, o desenvolvimento industrial foi, sem comparação, muito maior e, de modo algum, isolaram os respectivos países como o ex-líder cubano fez.
É evidente que o PCP apresentou e fez aprovar na AR um voto de pesar, algo que não estranhamos. Porém, o que dizer do voto patenteado pelo PS? Sim, sim, pelo PS e aprovado, como é óbvio, pelos comunistas. E lamento mais ainda que tenha havido deputados sociais-democratas a absterem-se na respectiva votação.