Existe uma frase muito em voga nas redes sociais que diz, e cito de cor, “se viajar fosse gratuito talvez não visses tão depressa”. Esta frase levanta duas questões: a primeira é que poucos são aqueles que não gostam de viajar; a segunda, talvez a mais assertiva, é que a maior parte das pessoas está cansada deste país.
O período de instabilidade que se viveu e ainda vive na economia teve e tem as suas consequências no mindset dos tributários portugueses. Estes tornaram-se mais estratégicos, eficientes e ágeis, autênticos especialistas em espremer a economia, asfixiando-a, tornando o crescimento quase nulo. A isso obrigou a filosofia de “fazer mais com menos”. Eis um dos principais motivos para a grande debandada.
Tudo isto é ouro sobre azul para uma nova geração de portugueses a quem são reconhecidas aspirações orientadas para o bem-estar e para a criação de um mundo melhor, bem como sustentadas essencialmente no mérito. Olham para um mundo sem fronteiras e por isso o não receio por viajar. Todavia, pretendem também silêncio e tranquilidade para realizar as suas tarefas com sucesso. O alarde das suas “façanhas” – há quem os designem por novos aventureiros ou descobridores do séc. XXI – não lhes está no ADN.
Os seus desejos passam por trabalhar em open space, com um ambiente informal e descontraído, pensado para estimular a colaboração e o trabalho em equipa. Assim, ao contrário do que a opinião publicada apregoa, muitos dos talentos saídos das nossas universidades não querem ficar neste rectângulo à beira-mar plantado, mesmo que lhes seja proporcionado emprego. A atracção e capacidade para se focarem no trabalho sem interrupções faz com que estas pessoas usufruam intensamente a vida, tanto a nível de trabalho como de lazer.
Quando mais jovem também eu demandei a outras paragens. Não com intuito de enriquecer financeiramente, mas de abertura a outros horizontes, tanto cultural como socialmente desejáveis. Hoje, porém, não seriam países subdesenvolvidos que me aguardariam. A “África” dos nossos dias situa-se em Inglaterra, Países nórdicos e outros semelhantes. Ah, se voltasse a ter vinte e poucos anos!