O meu ponto de vista

Setembro 30 2016

Sim, é verdade, também sonho. Nem sempre, mas sonho. Umas vezes acordado, mas a maior parte das vezes a dormir. E o outro dia tive um sonho. Se é irónico, pretensioso, falacioso ou não, vocês, caros leitores, dirão melhor que eu. Em resumo, a aludida quimera pode contar-se do seguinte modo.

A direcção de um agrupamento de escolas aqui bem perto, do qual me abstenho de nomear, cansada das intromissões da autarquia, da “rebeldia” de alguns docentes, da displicência de outros, esgotada por ser criticada por tudo e por todos - apesar do suor, sangue e lágrimas derramadas -, apresenta a sua demissão.

Antes, porém, resolve ter um “bate-papo” com o je. E, nos intróitos, vem à baila os dissabores, as arrelias, os contratempos e, sobretudo, a incompreensão manifestada, principalmente, pelo corpo docente, o qual, apesar de terem feito vista grossa, i.e., terem deixado que este navegasse com mar à vista, se tem mostrado ingrato.

É certo que a direcção conhece mal ou nada mesmo sobre a realidade das várias unidades orgânicas que compõem a maior instituição do concelho (!!!) – as palavras não são minhas -, limitando-se, quanto muito, a aparecer nesta ou naquela, género visita de médico ou para almoçar. Todavia, no seu alto esplendor – aqui a lavra já é minha – acham-se uns verdeiros injustiçados.

O desenrolar da conversa continuou, afirmando aquela que se emana instruções, os docentes queixam-se de que são tratados como meros alunos; senão enviam é porque não fazem o trabalho de casa. É caso para dizer que tanto faz levar o burro – salvo seja – à água como não. Porrada é sempre certa! E deram um exemplo. Para as reuniões de avaliação do final do ano, a determinada altura, afirmam ser dever dos directores de turma “………”. Ora, logo um coro de críticas se levantou, dizendo estes que, de antemão, sabem – aliás, sempre o fizeram – que devem entregar todos os documentos devidamente em ordem. Mais: que não se pode dizer a docentes com vinte, trinta ou mais anos de serviço, o que devem fazer, tintim por tintim, como fossem autênticas crianças.

Por outro lado, os docentes da secundária queixam-se que, logo às 8:30 horas, o director se passeia pelos corredores, qual polícia, - onde é que eu já ouvi isto? – sem que faça o mesmo noutros estabelecimentos de ensino pertencentes ao agrupamento. Caramba, uma pessoa já não pode deambular por onde quer? Tem que ser por onde os outros querem?

Sei que se falou muito mais, num desfiar de rol de queixas e azedumes até mais não. Infelizmente não me recordo de tudo.

A verdade é que, de repente, acordo e observo que tudo, afinal, não tinha passado de um sonho.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:15

Setembro 29 2016

Apesar de, na maior parte das vezes, não darmos por isso, manda a verdade dizer que, hoje-em-dia, muitas das decisões que tomamos, enquanto consumidores, são fortemente influenciadas pelas experiências que outros já tiveram. Consequentemente, a nossa tomada de decisão é mais rápida e, sobretudo, mais consciente e com menor risco.

Se queremos adquirir um carro podemos consultar primeiramente as muitas revistas especializadas do sector automóvel; se queremos um restaurante basta indagar a crítica gastronómica publicada em quase toda a imprensa; se queremos um hotel acedemos ao Booking … e pronto! Muitos outros casos podiam ser citados, mas tal tornar-se-ia fastidioso. O certo é que num ápice a nossa tarefa está concluída e, ainda por cima, bastante facilitada. Haja dinheiro que hipóteses de escolha não faltam.

Como é evidente devia haver algo semelhante para tudo o que necessitamos quotidianamente. A nível de escolas, por exemplo, a não ser os rankings, como todos os inconvenientes que lhes estão associados e por todos apontados, não existem especialistas que nos possam indicar que esta ou aquela é melhor para o métier de quem faz do ensino a sua profissão/ocupação.

Nesta ordem de ideias, deveria haver uma plataforma que permitisse aos utentes ou ex-utentes, colaboradores ou ex-colaboradores deixarem comentários sobre a instituição, informações sobre condições de trabalho, feedback das chefias, relacionamento entre pares, etc., de modo a que todos os interessados, discentes, docentes e não docente, bem como restante comunidade escolar, pudessem consultar e saberem com o que poderiam contar antes de efectuar a sua escolha, caso haja essa opção.

Tudo o que fazemos, como é lógico, tem repercussões, negativas ou positivas, e assim tal plataforma, com transparência, poderia ser um grande instrumento de cooperação.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:28

Setembro 28 2016

O outro dia, num consultório médico, folheando uma revista - não do género cor-de-rosa, felizmente -, da qual não retive o nome, deparei-me com uma pequena notícia em que narrava mais ou menos isto e cito de cor: uma determinada empresa instalou junto à porta de saída um pequeno aparelho com uma tecla verde e outra vermelha, tendo por baixo uma simples questão: como correu o seu dia?

O aludido sistema tinha e tem, pois presumo que ainda esteja em funcionamento, como objectivo principal coligir, em tempo real e de forma acessível, a informação dos colaboradores que, voluntariamente e no final de um dia de trabalho, clicam nos botões, quanto ao seu grau de (in)satisfação e bem-estar durante a sua jornada laboral.

Bem sabemos que a necessidade de uma cultura de gestão cognitiva e instrumental, traduzida em objectivos, procedimentos e resultados, é inquestionável. Todavia, é importante recordar que o sucesso da organização/instituição depende não só dos comportamentos mas sobretudo da cultura emocional destas, i.e., dos sentimentos e afectos que suscitam nos funcionários.

Imaginem, caros leitores, tal aparelhómetro instalado à saída de cada uma das nossas escolas. Pelos últimos estudos vindos a público – vide http://www.cnedu.pt/pt/noticias/cne/1153-estado-de-educacao-2015, só para citar um – o resultado, na larguíssima maioria, seria uma autêntica onda encarnada.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:15

Setembro 27 2016

A História permite-nos analisar os erros de modo a evitar repeti-los. Todavia, não podemos ficar presos a uma análise desenquadrada da realidade quotidiana. Antes de agir e de “botar faladura” devemos estudar minuciosamente todos os indicadores para verdadeiramente compreender quais os caminhos a percorrer.

Não tenhamos, porém, ilusões: a chave do problema está no Estado que temos, ou, se quisermos, na forma de organização política e administrativa engendrada ao longo dos anos, nas disfunções que a descaracterizam, na teia de interesses que a moldam e na ineficácia e improdutividade em que caiu.

O problema é muito antigo, mas recentemente parece atingir, uma vez mais, o ponto de ruptura. Nessa ordem de ideias, é preciso, independentemente do canto das sereias, trilhar o longo e penoso caminho da cura. Bem sei que, até lá, poderão ocorrer melhorias pontuais, em função de ciclos ou nichos de mercado. Contudo, infelizmente, o modelo estrutural, no essencial, permanecerá. Há muito tempo se espera por um modelo ou paradigma que contivesse a definição para a reforma do Estado.

Mais: que os orçamentos, em articulação com outras leis, fossem dando passos graduais e seguros no sentido da sua concretização. Mas não é isso que se constata. Sem margem para dúvidas, somos uma país eternamente adiado, i.e., em que as ideias gerais que encobrem a incapacidade de assumir com eficácia e pragmatismo um rumo colectivo.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:27

Setembro 26 2016

Muito se tem falado do Orçamento do Estado (OE) para 2017. E fala-se uma vez temer-se o aumento da sobrecarga fiscal sobre a classe média, seja lá isso o que for. Já agora convinha, de uma vez por todas, que nos entendêssemos sobre que conceito é este. É que para quem aufere o salário mínimo, um ordenado na ordem dos 1 500/2 000 euros já é muito e, consequentemente, pertence àquela classe. Todavia, quem vence mensalmente estes valores é de opinião de que classe média são aqueles que ganham 4 000/5 000 euros. Estes, por sua vez, acham que, quanto muito, são classe média baixa, já que média mesmo é quem recebe 10 000 euros. E o raciocínio podia continuar ad eternum.

O que sabemos é que voracidade dos governos em geral e deste em particular, apoiado pela esquerda e extrema-esquerda, numa deriva de sovietização, afirma que vai taxar aquilo que apelida por grandes fortunas, na ordem dos 500 000/1 000 000 de euros. Ora, como são poucos aqueles que as possuem, concludentemente, a receita apurada é pouca para manter a gordura do Estado. Como é óbvio - e longe de ser caso virgem – começam, ano após ano, a descer a fasquia, acabando por atingir muitos outros.

Sabe-se que OE ainda está na fase do Rei Pescador, aguardando que Percival lhe faça a pergunta certa que, neste caso é: haverá ou não um aumento brutal de impostos (in)directos sobre os rendimentos e/ou património? Assim como o barqueiro do Hades, Caronte, a quem é necessário dar uma moeda para passar o rio que separa a vida e a morte. Sem moeda vagueia-se no limbo. E a dita classe média? Leva a moeda?

publicado por Hernani de J. Pereira às 22:13

Setembro 23 2016

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Desde há muito que conhecia o local. Aliás, já por ali passara centenas, senão milhares de vezes. Porém, naquele dia algo houve que lhe despertou a atenção. Talvez um sol diferente a brilhar por entre farrapos de pequenas nuvens, talvez a sua felicidade, não sabe. Sim, o que percebeu é que aquele foi diferente dos demais.

À beira do rio Ledo, com cidade de Tafona no horizonte, ergue-se o emblemático Farol de Mar-Morto. Situado no terminal fluvial, junto a uma série de fragatas e a curta distância do velho submarino Lagedo, este património da marinha marca, de forma indelével, a imagem da frente ribeirinha de S. Cipriano. Assumindo-se como uma referência da história local, o Farol de Mar-Morto, que aqui funcionou entre 1856 e 1969, é um dos pontos mais bonitos.

Quem vem da zona ribeirinha, encontra à entrada da Rua Bendita, junto ao Largo do Timoneiro, o chafariz monumental da segunda metade do século XIX. Era aqui, neste sítio histórico, que aguadeiros, particulares e animais se abasteciam de água até meados do século passado, altura em que o fontanário foi demolido. Reconstruído recentemente dá novamente de beber a quem por ali passa.

Na pedra que delimita este património pode ler-se o poema de Mário de Sá-Carneiro “A Inigualável”:

Água fria e clara

Numa noite azul

Água, devia ser

O teu amor por mim!

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:35

Setembro 22 2016

O desemprego, felizmente, tem vindo a decrescer desde 2014. Ainda é grande – basta haver uma só pessoa sem trabalho para ser intolerável – mas, o certo, é que tem vindo a diminuir. Também é verdade que à custa de algum trabalho temporário. Mas só quem não sentiu os malefícios do desemprego pode desdenhar de um emprego a termo certo. Como o nosso bom povo costuma dizer “mais vale um pássaro na mão que dois a voar”.

Para que este caminho continue há também que mudar mentalidades. Empresas, trabalhadores e candidatos enfrentam este desafio dando primazia à geração de valor acrescentado e rentabilidade. Por outro, ultrapassando o estigma do trabalho temporário e do outsourcing, focando-se sim em acrescentar valor, enriquecer a sua experiência e até reinventarem-se para o mercado.

Ora, o BE – qual, senão este grupo político? – propõe fortes limitações ao trabalho temporário. A ideia do Bloco, secundado pelo Governo – podia ser de outra forma? -, é criar um limite para o número de renovações, assemelhando estes contratos aos contratos de trabalho a termo. Se no final do período estipulado, a empresa decidir manter o trabalhador ao seu serviço, então o funcionário entra para os quadros.

À primeira vista, a ideia até é simpática. Todavia, sabendo como está a nossa economia, qualquer empresa vai conter-se na contratação de trabalhadores, pois sabe que, senão o fizer, mais cedo que tarde, terá de passar estes para os seus quadros, situação por todos sabida como incomportável.

publicado por Hernani de J. Pereira às 21:23

Setembro 21 2016

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Já se esqueceu da última vez em que foi amado(a)? Não se sinta constrangido(a). Basta começar a um nível tranquilo e, à medida que se sentir mais confiante, intensifique gradualmente o esforço. Se necessitar de um incentivo, não hesite em desafiar um(a) amigo(a) para o(a) acompanhar, pois para além do convívio – aliás, importantíssimo – beneficiam ambos da actividade.

Deveras relevante é não desistir. Por isso, talvez o melhor seja começar por algo de que goste. Ou por uma actividade simples, como uma ida ao cinema, a qual pode ser feita ao final do dia. O único “equipamento” que requer é paciência, saber ouvir e proporcionar conforto. É conveniente levar uma garrafa de água, para manter bons níveis de hidratação, bem como para que o órgão móvel da sua cavidade bucal não desseque.

O essencial é sentir-se bem e, acima de tudo, sempre melhor. Experimente. Vai ver que nota a diferença.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:23

Setembro 20 2016

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Pouco a pouco, sem que a maioria dê por isso e muito menos mostre sinais de preocupação, caminhamos para um novo paradigma: acabar com os ricos de modo a que todos sejamos iguais, i.e., pobres na verdadeira acepção da palavra.

O BE, comandado pelo clã Mortágua e encontrando um PS totalmente subjugado, senão mesmo de cócoras, não pára e ei-lo a combater qualquer forma de poupança, qualquer sinal exterior de riqueza, numa raiva atroz e intempestiva. Para a frente é que é o caminho. Seja qual for a circunstância da vida, quando surge alguma barreira algures ao longo do percurso ou aquele que caminha sente hesitações sobre o rumo a tomar, eis a querida líder – Costa apenas lhe interessa continuar à tona da água – a dizer-nos, de entre outras pérolas, que “a primeira coisa que temos de fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”.

Ora, quem diz dinheiro, diz comercializar uma casa, adquirir um novo carro, ir às compras ao shopping ou ao supermercado. Isto porque o desejo mais profundo de Mariana Mortágua é o igualitarismo total, é a subversão completa do nosso modo de vida. Mais que indicar uma direcção, a frase refere-se à perseverança de quem deve aprender a contorná-la, e não a deixar-se travar pelos obstáculos que vão surgindo a cada etapa.

Sujeitando-se às mais variadas leituras, aproveita-se aqui o provérbio para enquadrar à luz da conjuntura recessiva em que a economia ultimamente mergulhou. Nada a parará. Olof Palme, esse grande estadista sueco e, de certo modo, pai do estado social, afirmou que o seu desejo não era terminar com os ricos, mas sim com os pobres. Todavia, para a timoneira Mortágua, tal não passa de um ideal que contém uma pudicícia intrínseca, a qual tem de ser urgentemente combatida. Daí a sanha.

Por este andar ainda seremos a Coreia da Europa. Não teremos Kim Jong-un, mas para nossa felicidade desfrutaremos de La Comandante Mortágua, assim cognominada por João Miguel Tavares.

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:09

Setembro 16 2016

Quando encostado às tábuas, quando encurralado, qualquer ser tenta a fuga sem procurar saber qual o melhor modo de o fazer. Como é evidente o homem não foge a esta regra. Veja-se o caso de José Sócrates.

Depois de ter colocado o país à beira do precipício e posteriormente começar uma faustosa vida sem que ninguém descortinasse de onde vinham os meios para levar tal, a justiça iniciou o cerco e, apesar de mais vagarosa do que todos desejavam, tem vindo a acumular indícios fortes de culpabilidade, ainda que as respectivas provas sejam – ninguém duvida – extremamente difíceis de obter.

E o que tem vindo a fazer o ex-primeiro-ministro? Dispara, sempre que pode, em todas as direcções, com um azedume que roça o desespero. É vê-lo, então, a dar tiros tentando atingir não pequenos botes mas autênticos porta-aviões, começando pelo juiz Carlos Alexandre, passando pela Procuradora Geral da República e terminando na primeira figura do Estado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Lamento tal postura, uma vez que não vê que os disparos que dá são nos próprios pés!

publicado por Hernani de J. Pereira às 20:59

Análise do quotidiano com a máxima verticalidade e independência possível.
hernani.pereira@sapo.pt
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