É costume dizer que tudo o que fazemos, mesmo as coisas mais ínfimas, é política. Por isso, reflito, analiso, falo e escrevo tanto. É uma necessidade vital, quase como respirar.
Com o emprego, desemprego, austeridade ou abundância, os acontecimentos dos último anos, em termos de instabilidade, insegurança e imprevistos mais ou menos trágicos, levam-nos a pensar sobre o modo como percecionamos e sentimos os problemas sociais.
Por exemplo, os atentados em Paris mobilizaram o mundo, principalmente o ocidental. Mas pergunta-se do porquê de nos chocarem mais do que milhares de pessoas, eminentemente cristãs, embora de outras raças, que têm sido assassinadas nos últimos tempos noutros pontos do globo.
A diferença do choque e do sentimento está directamente ligada ao que consideramos ser nosso e dos outros. Assim, o “nosso” desemprego é um problema. O dos “outros” quase não passa de mera estatística.
Os despedimentos têm sido no sector privado. As greves, porém, são no sector público. Os jovens têm de procurar trabalho no estrangeiro. Os não jovens não têm onde procurar. E muitos outros exemplos poderiam aqui ser dados.
São quatro décadas as que nos separam de Abril de 74. Contudo, como tantas coisas mudaram e tantas se mantêm iguais no universo individual! Trata-se, no fundo, do paradigma económico que nos rege, o qual, apesar de moribundo, ainda respira: nunca pensamos nos outros. E os outros somos, também, nós!