Circunvagar pelo país, conhecer um pouco melhor todos os locais do mapa e verificar que há, em cada canto, sempre algo a descobrir pode ser muito retemperador. Hoje é, também, muito mais fácil. Com a ajuda do computador e da internet podem-se construir itinerários, marcar alojamentos e repastos, aproveitar as muitas sugestões de turismo que existem em Portugal.
Afinal, somos um país com grande diversidade de norte a sul, de Caminha a Vila real de Santo António, e basta estar de mente aberta, à procura de algo familiar ou novo.
É isto, por exemplo, que oferece o noroeste do país, a região berço do vinho verde, uma cognominação que representa frescura, leveza, em suma, que é parceira para petiscar à mesa. No percurso, a cor que designa a região é dominante numa paisagem onde o relevo prevalece, contendo cursos de água refrescante, separando terras sedutoras como Melgaço, Monção, Amarante ou Ponde de Lima, entre outras, locais de excelente repasto, vistas maravilhosas e outros motivos de visita.
E foi por entre os rios e as pequenas elevações ladeantes, entre a paisagem luxuriante no meio de nenhures, entre o mil chilrear dos pássaros nas árvores e o sossego dos prados, que nos rimos, chorámos, conversámos muito seriamente e de seguida, quais doidos despegados, nos divertimos imitando este ou aquele conhecido, contando esta ou aquela situação caricata.
Importa, porém, o final. De ti me apoderei e, simultaneamente, teu escravo fui. Se passou alguém por nós, não demos conta e, para o caso, também é irrelevante. O êxtase - sim, porque nessa altura, Teresa, bem o sabes, por todos os poros exalávamos paixão - de nós se apoderou e nada mais contava.
Pernoitámos em Caminha, numa residencial bem perto das muralhas. Depois de um belo jantar – trutas grelhadas e entremeadas com tiras de presunto, acompanhadas com o alvarinho Via Latina – o passeio impôs-se. De braço dado percorremos algumas ruas e viela da velha vila, comentando este ou aquele episódio.
Cerca de duas horas depois, não sei bem, recolhermos à pousada onde o mundo ficou reduzido àquelas quatro paredes, onde a noite se fez dia, onde as estrelas, ainda que literalmente não as víssemos, ficaram mais brilhantes. Naquele quarto conquistámos o universo e fizemos promessas, as quais - mais eu que tu - não soubemos, ou melhor, não tivemos o engenho de concretizar.
Recordo com saudade. Uma coisa, Teresa, sabes que é verdade: a partir desse momento, fossemos para onde fossemos, jamais levei pijama. Contigo, uma t-shirt chega e sobra para passar a noite. E, propositadamente, não menciono a palavra dormir!
Naquele vasto anfiteatro que se eleva gradualmente a partir da orla marítima para o interior, de igual modo procedemos.