Costumo dizer que três coisas existem comuns à generalidade dos portugueses, a saber: excesso de trabalho, falta de dinheiro e inexistência de tempo livre. E acrescento, em tom de brincadeira, mas com muita seriedade por trás, que com tanto trabalho não sei como é que o país está na cauda da Europa em termos de riqueza.
Aparte isso, todos reconhecemos que o trabalho humano, seja ele ou não produtivo e/ou rentável, para além de fonte de sobrevivência, possui uma tal dimensão, complexidade e multidisciplinaridade que não existe praticamente nenhuma expressão social, económica, cultural e ética que com ele não interaja.
A visão de que o trabalho representa – p.f. não confundir com emprego – implica saber, vivência, serviço de interesse público e cultura de valores. E a falta dele constitui um desastre humanitário de dimensões incalculáveis. Por isso, tudo o que possa ser feito para promover a criação de postos de trabalho é urgente e inadiável.
Embora a criação de postos de trabalho não dependa apenas da economia, seja de mercado, seja social, é verdade que o investimento e o crescimento económico constituem a sua alavanca principal. Mas muito, mesmo muito, pode ser feito no contexto do estado da economia em cada momento. Isto apesar do futuro, com as medidas que este governo promete implementar, não augurar nada de bom.
O flagelo da inexistência de trabalho para muitos portugueses não se compadece com entropias de uma outra dimensão.