Não somos todos assim, mas quase. Somos o primeiro a criticar a ausência e somos também os primeiros a criticarmos a presença. E, inopinadamente, damo-nos bem com isso, uma vez não nos faltarem adágios que justificam tal. Abonamos, de entre outros, sempre com os velhos e gastos argumentos de que os extremos se tocam e não podemos ter uma prática de oito ou oitenta.
Se a polícia não ocorre, aparece tarde ou quando surge não intervém com a força que a turba, mais ou menos exaltada, assim exige “aqui d’El Rei” que não há segurança e que tudo isto se transformou num caos. Porém, se as forças de segurança intervêm, digamos de uma forma mais musculada, há logo quem afirme, alto e em bom som, aproveitando demagogicamente o momento, que vivemos num estado repressivo.
Então, no campo desportivo em geral, e no futebol em particular, esta marca é pródiga e indelével. Os adeptos, independentemente da sua clubite, apesar de mais uns que outros, podem danificar, vandalizar, roubar, chamar nomes a tudo e a todos, proclamar os maiores impropérios que nenhum dicionário se atreve a publicar, e até cuspir nos agentes da autoridade, que estes têm a estrita obrigação de se manterem impávidos e serenos.
De modo algum defendo o uso excessivo da força e por entender que vivemos num estado de direito, sou de opinião de que o respeito entre todos é a base de uma sã convivência democrática. Uma atitude digna, um valor sóbrio e uma ética cívica devem ser mantidos tanto na euforia da vitória como na adversidade da derrota.
Se não sabem ficam a saber: o policiamento dos jogos de futebol é pago como horas extraordinárias às forças de segurança, dinheiro - cerca de 3,5 milhões de euros - que sai dos nossos bolsos. Ora, com a pressão a que estas estão a ser sujeitas imaginem se estas se negassem a fazer tal serviço. Ainda quero ver quais os jogos que se realizariam!