Todos sabem que jamais morri de amores por João Alberto Jardim. Tenho-o criticado, nestas e noutras páginas, imensas vezes, pelo que não lamento o seu afastamento do Governo Regional da Madeira. O tom truculento, muitas vezes a raiar o de troglodita, não me deixa saudades.
No entanto, seria desonesto da minha parte não reconhecer a obra feita. Mudou, sem sombra para dúvida, a imagem daquele arquipélago, dando-lhe recursos e meios para o seu desenvolvimento. Já quanto à sustentabilidade tenho os maiores receios, uma vez que muitos dos equipamentos são megalómanos, autênticos elefantes brancos, os quais, por si, são enormemente deficitários, pelo que, por muitos e muitos anos, senão mesmo para sempre, necessitarão da contínua ajuda do Estado.
Se afirmei anteriormente que Alberto Jardim deixou obra, também não é menos verdade que o fez à custa de dinheiro que, por pressão despudorada, conseguiu dos sucessivos governos da república, independentemente da sua cor política. Aliás, não foi por caso que a dívida, em forma de buraco financeiro, foi de tal modo que ajudou e muito à vinda da troyka.
Por isso, tal como já o disse em textos precedentes, assim não custa fazer obra. É certo que não se lhe pode acusar o desvio de um cêntimo, mas fazer obras com o dinheiro que outros jamais conseguiram recusar não é de gabar.
Agora, desenganem-se aqueles que esperam ver este político sentado numa qualquer esplanada da Madeira, bebendo a sua poncha e fumando o seu charuto. Pode, na verdade, fazer isto, mas não se quedará por aí, para nossa infelicidade. Há-de atazanar-nos a cabeça e não tardará muito. Já nas próximas legislativas será eleito deputado à AR e lá teremos de o gramar dia sim, dia não. Depois, no próximo ano, haverá eleições para a presidência da República e já não é a primeira vez que o seu nome é ventilado para este cargo. Bato na madeira dizendo “o Diabo seja cego, surdo e mudo”, mas, com tal personagem, é melhor estar preparado para tudo. Ambição e descaramento não lhe faltam.