Os dados quando já conhecidos dão-nos a fortaleza de podermos jogar com eles pelo seguro. É uma verdade à “La Palisse”, apesar de com tal informação, ainda que exacta, se poder jogar em vários tabuleiros, fazendo lembrar que uns dizem que o copo está meio vazio, enquanto outros afirmam que está meio cheio.
Ainda a propósito dos resultados nos exames nacionais de 2014, e consequente posicionamento no Ranking de Escolas, há a frisar algo que à primeira vista passa despercebido. Refiro-me, concretamente, à existência ou não de outras vias de ensino que não as “normais”, i.e., as escolas possuírem ou não cursos de educação e formação, vulgo CEFs, vocacionais e/ou profissionais.
Como sabem, fui e continuo a ser contra o enorme disparate de estender a escolaridade obrigatória até aos 18 anos, iniciativa de um governo PS, mas que nenhum outro revoga, tanto mais que isso faria aumentar o nível do desemprego, essencialmente entre os mais jovens. Assim sendo, porque é obrigatório que os jovens estejam na escola até atingir a maioridade, e sabendo que para alguns destes o espaço escolar, e fundamentalmente a sala de aula, pouco ou nada diz, não aprendendo e, o que é mais grave, não deixando aprender, tornou-se necessário criar uma alternativa, ou seja, um percurso escolar mais virado para a prática e cujo pendor académico fosse mais leve, com menor carga horária e exigência intelectiva, uma vez que o futuro destes, em princípio, não passaria pelo prosseguimento de estudos.
É claro que esta medida trouxe duas vantagens imediatas: retirou os alunos problemáticos das turmas, repito, ditas “normais”, fazendo com que, por um lado, o lugar no ranking subisse, muitas vezes quase exponencialmente, e, por outro, criou uma espécie de alternativa para aqueles. Digo espécie uma vez que, mesmo com todas as características que envolvem o desenvolvimento destes cursos, a resposta não é totalmente eficaz.
Juntar discentes possuidores de várias repetições - uns devido às suas dificuldades cognitivas, outros, o que é ainda pior, devido aos seus múltiplos comportamentos e atitudes desviantes –, com idades muito avançadas, cujas estruturas sócio-familiares deixam muito a desejar, isto para não utilizar a caracterização mais hard, como é lógico, não é fácil de “aguentar”.
A persistência, a firmeza das convicções, a resiliência, entre outras facetas, são desempenhos a todo o momento colocados à prova. Por isso, costumo dizer que nem todos os docentes são indicados para ministrar aulas a este tipo de alunos.
E não vale a pena chorar sobre o molhado, pois não existem outras hipóteses. Por muitos processos disciplinares que eventualmente se possam instaurar é impossível “chumbar” a maioria e mesmo que assim pudesse ser eles permaneceriam na escola. Unicamente se passaria a “batata quente” para outro(s).
Uma palavra final para os professores que não têm estes alunos: em primeiro lugar, agradeçam diariamente a todos os santinhos e, principalmente, aos colegas que os têm; em segundo, jamais vituperem sobre uma ou outra migalha, em forma de “regalia” que não o é, e que - muitas vezes, sem qualquer rebuço - dizem que têm; em terceiro, é fundamental a amizade constante e a palavra assertiva.