A liberdade de falar e de escrever, como a generalidade das pessoas bem sabem, é algo que se reconquistou à quarenta anos e está prescrito como direito constitucional. Contudo, algumas existem que, quer os outros escrevam ficção ou não, e por muito que seja efectuado dentro dos limites da urbanidade, acham que tal direito deve ser coartado, apesar de serem as primeiras - farisaicamente, entenda-se – a defender a plenos pulmões, i.e., publicamente, a liberdade total.
O saber falar e, neste caso, escrever, é um dom e como tal deve ser exercitado diariamente. Não estou a afirmar que possuo este, bem pelo contrário, mas somente a constatar um facto. Esta qualidade, a maior parte das vezes inata, mas que também se melhora através de uma dedicação e empenho aturado, deve ser colocada em prática o mais comumente possível, à semelhança de outras faculdades, na defesa honesta do modo de pensar, ser e estar, na crítica construtiva, na apresentação constante de alternativas credíveis, mas tendo sempre como objectivo final o serviço ao outro.
Aquilo que genuinamente somos em contraste com a imagem que os outros constroem sobre de nós depende e muito do que, como e quando fazemos, seja de que índole for. Daí o risco de quem, quase diariamente e há tantos anos, escreve. Expõe-se, desnudando-se por vezes até, o que acarreta incompreensões e, sobretudo, incómodos. É o preço a pagar.
Como é óbvio, muito menos apoquentado estaria senão escrevesse e dissesse o que penso. De algo tenho a certeza: analiso e discuto ideias, jamais pessoas.
Adenda: este é um texto a quem não dou qualquer liberdade - sim, bem sei que me vão acusar de incoerência - para o lerem como algo justificativo do que quer que tenha dito ou escrito.