Se algo existe de que gosto é da vida agrícola e, sobretudo, do amanho da vinha. A poda, a empa, a cava, os tratamentos fitossanitários, a maturação das uvas e, finalmente, a vindima, i.e., o produto derradeiro de um ano inteiro de canseiras.
Neste último passo se vê o como, o quando e o quanto se amou o terroir. Todavia, na qualidade das uvas, como todos bem sabemos, a natureza tem uma influência extraordinária.
Foi o que aconteceu este ano. Em virtude de um Inverno muito longo, o nascimento dos cachos foi tardio e, para agravar a situação, em quantidade inferior ao normal. No entanto, se o problema se quedasse por esta circunstância, estava neste momento a agradecer a Deus.
Infelizmente, os problemas continuaram e especialmente em Agosto, mês em que se fazem ou não os grandes vinhos, foi extraordinariamente ameno, isto para usar uma expressão benigna, uma vez que realmente foi um período de tempo em que as temperaturas ficaram sempre aquém dos 30ºC, havendo muitos dias em que a chuva foi companhia. Porém, o pior mesmo foi a intensa pluviosidade que neste mês nos inundou.
Em resultado, as uvas ficaram muito longe da sua plena maturação, pelo que o teor de açúcar era e infelizmente continua a ser extremamente baixo. Assim aconteceu com as uvas brancas, vindimadas a semana passada, cujo álcool registou, em média, dois graus abaixo e, não tenho a menor dúvida, nas tintas, a colher nos próximos dias, o caso será, pela amostra, ainda pior. E, com tanta chuva, começam a apodrecer, sendo caso, perdoem-me a expressão, para dizer “em cima de pontapé … coice”.
A viticultura é um projecto que nasceu comigo com a perspectiva de que o produto deixasse de ser uma commodity para passar a ser diferenciado e apreciado nos seus vários graus de qualidade, uma vez que actualmente as pessoas estão cada vez mais informadas e interessadas em relação aos vários tipos de vinho e suas origens.
Longe de ser uma obsessão, reconheço que tenho alguma vaidade na qualidade das uvas que produzo, um bem que este ano está muito longe do patamar que a mim próprio impus: importa muito pouco a quantidade, pois a qualidade deve estar sempre em primeiro lugar.