Os números não espantam e ainda bem que assim é. Numa semana em o primeiro-ministro quase se auto-imolou em lume brando devido às tardias explicações sobre o caso Tecnoforma, permitindo todo o género de especulações, tendo gerado na cabeça de muitos portugueses que algo pouco sério teria, em tempos, acontecido – e sabemos o quanto é fácil arreigar-se uma ideia e o quão é difícil, para não dizer impossível, remover tal –, eis que, no final de domingo p.p. surge um happy end no que concerne às primárias do PS.
O candidato mais desejado pelas hostes socialistas, leia-se António Costa, ganhou com uma margem tão dilatada e num universo de eleitores tal que a contestação, se é que perpassava pela mente de alguns, de todo deixou de fazer sentido. Por isso, a sua entronização como secretário-geral, a ocorrer só lá para Dezembro, por força das normas estatutárias do PS, será apenas uma mera formalidade.
Importa, porém, dizer que se até aqui o putativo candidato a primeiro-ministro pelo partido da rosa à maior parte das questões importantes da vida nacional praticamente disse nim ou respondeu com generalidades, a partir de agora terá de se esforçar muito mais, descer à terra, e apresentar medidas concretas, as quais, certamente, terão que ir muito mais longe de uma hipotética e pouco provável Agenda para a Década.
Acresce o facto de ao não ser deputado e, por essa circunstância, não poder defrontar Pedro Passos Coelho quinzenalmente no Parlamento, ter de deixar essa tarefa para figuras de segundo plano, o que é um enorme inconveniente. Bem, há quem ache isso vantajoso, já que a menor exposição, em princípio, dará origem a menos gafes.
Por fim, uma palavra para o PSD. É por todos evidente que a subida de António Costa ao primeiro plano do PS foi como lhe tivesse saído a fava. A renovada mobilização que se estabeleceu em torno do PS não é coisa para se apoucar, bem pelo contrário. Um novo líder acarreta sempre uma reanimada esperança e, quer se queira quer não, os tempos que correm – ouça-se a voz do povo - não vão de feição para a coligação governamental.