Todos nós já vimos, ouvimos e lemos coisas espantosas. Coisas que os mais antigos, pela enorme admiração que causavam, designavam por “coisas do arco-da-velha”.
Foi o caso de uma notícia que os media deram o devido relevo e que se pode resumir no seguinte parágrafo: João Silva Bento, 12 anos, estudante do 6.º ano na Escola Secundária Manuel Fernandes, em Abrantes, sagrou-se este ano campeão mundial de cálculo mental, entre mais de 36 mil participantes de 61 diferentes países.
Até aqui, indagarão os meus caros leitores: onde está o espanto? Pois bem, a estupefação está que o aludido aluno teve negativa a Matemática no final do segundo período.
Como é óbvio nestes casos, surgem sempre as explicações – algumas delas perfeitamente esfarrapadas – sobre os factos. Assim, a presidente da Associação de Professores de Matemática(APM) defendeu que os maus resultados à disciplina do aluno de Abrantes, que se sagrou campeão mundial de cálculo mental, sublinha a incapacidade da escola em trabalhar com estudantes sobredotados. "Muitas vezes há alunos que têm muitas capacidades, e que até são considerados sobredotados e, por isso mesmo, têm pouca paciência para o trabalho rotineiro que se faz nas salas de aula. Falamos muito do apoio a alunos com dificuldades e esquecemos a importância do apoio àqueles que têm capacidades especiais", disse à Lusa a presidente da APM, Lurdes Figueiral.
Por outro lado, “João Bento tem revelado uma apetência invulgar para o cálculo mental", disse à agência Lusa o seu professor de Matemática, António Percheiro, tendo observado que o jovem campeão do mundo de cálculo mental "é um aluno com dificuldades a Matemática".
Lurdes Figueiral diz que esta situação "não é nada que surpreenda", e que vem apenas sublinhar a incapacidade das escolas e dos professores lidarem com estes casos em contexto de sala de aula.
No entender da professora de Matemática, alunos com muitas capacidades têm a tendência para considerar o trabalho de sala de aula pouco estimulante e desafiante, "tornando-se medíocres, porque se cansam da rotina".
Serão necessárias mais palavras? Tenho a certeza que não.