Hoje, é inevitável falar de eleições europeias. E, apesar de haver um vencedor, o PS, uma vez ser este o partido que mais votos teve, o certo é que, em termos reais, praticamente se pode afirmar que não houve vitoriosos nem derrotados. Isto, claro, nos partidos do designado arco do poder.
A explicação é simples. Nem o PS obteve uma vitória estrondosa que tanto anunciou e que estava à espera, como a coligação PSD/CDS-PP não ficou muito aquém daquele. A divergência, em termos de votos, foi de 3,74%, o que não permite a António José Seguro pedir, com segurança, eleições antecipadas, ao mesmo tempo que dá alguma tranquilidade ao governo para “navegar” - mas à vista (!) - até às legislativas do próximo ano. Recordo que ainda há meia dúzia de meses, aquando das eleições autárquicas, o PS obteve cerca de 36 % dos votos, o que quer dizer que os autarcas socialistas valem muito mais que Seguro e Assis juntos. Em suma, foi aquilo que alguém, e muito bem, já designou por “vitória amarga, derrota doce”.
Enquanto o BE, conforme as minhas previsões, vai caminhando inexoravelmente para a extinção, o PCP mercê, por um lado, do espírito fervoroso dos seus militantes e, por outro, do descontentamento que lavra na população, catapultou, sem margem para dúvidas, a sua votação.
A grande surpresa foi, sem dúvida, Marinho Pinto. Homem anti-sistema, pessoa, como gosta de se afirmar, acima das tricas e baldrocas partidárias, senhor de um discurso populista, mas dando a entender – honra lhe seja feita - o contrário, venceu em toda a linha. No “terreno” conseguirá levar o barco a bom porto? O dom de palavra, rasando muitas vezes a verborreia, talvez não chegue a tanto. A ver vamos!
Uma chamada de atenção para a subida, na generalidade dos países europeus, da extrema direita – na Grécia passou-se exactamente o contrário -, naturalmente considerada anti-europeia, o que, para além de ser um contra-senso, deve levar à reflexão de todos, mas sobretudo da esquerda por força da aplicação das suas práticas políticas-sindicais, como é exemplo paradigmático o caso francês.
Por último, notar que abstenção, essa sim a grande vencedora, juntamente com os votos brancos e nulos chegou aos 75%, o que quer dizer que três em cada quatro portugueses não se revêm em qualquer movimento político. Sintomático!