Sim, mas apenas do corpo, da parte física, da matéria, entenda-se, já que os Homens que a seguir farei referência, e parafraseando o poeta, da morte há muito se livraram. Perdurarão pelos séculos e séculos, já que o seu enorme legado assim o justifica.
Na semana que antecedeu o dia de Páscoa, finou-se Gabriel Garcia Marquez. Ontem, após uma luta prolongada contra o cancro, deixou-nos Vasco da Graça Moura.
Se não falei, na altura própria(!!!) do falecimento daquele que foi o maior escritor colombiano de todos os tempos, isso se deveu a que tal ocorreu durante o Tríduo Pascal, o que com tudo o que isso acarreta para um cristão convicto, explica, de certo modo, a ausência de menção. Porém, como mais vale tarde que nunca, eis a alusão a quem tanto nos deu. A sua independência, a sua recusa constante em não se deixar aprisionar por uma esquerda sempre ávida de mensageiros da (pseudo)desgraça, não me foram indiferentes. Daí a sua crítica a Cuba e o ostracismo a que foi votado. Porém, mais importante que isso, foram os muitos livros que escreveu e que me encantaram durante horas e horas: quem leu, por exemplo, “Cem anos de solidão”, “O amor em tempos de cólera” e “Crónica de uma morte anunciada”, para não citar outras obras, nota um espírito superior, um modo extraordinário de contar estórias e, sobretudo, o sibilino sentido de captar a alma de um povo.
Uma rosa amarela - a tua flor preferida – depositarei na tua campa, virtualmente, é claro, fruto do meu humilde preito.
Vasco da Graça Moura! O que dizer deste grande humanista, advogado, poeta, romancista, ensaísta, tradutor – considerado o melhor tradutor de Dante – e Homem cívico? Conheci-o pessoalmente, numa sua breve passagem por Aveiro, onde falámos essencialmente sobre vinhos, já que era um bom apreciador do designado néctar dos deuses, principalmente do vinho tinto baga, hoje em dia lentamente a recuperar o seu devido lugar, mas que há seis anos era considerado algo em desuso. Culto, de voz rouca – fumador inveterado que era a isso obrigava -, sempre atento aos mais pequenos pormenores, mas sem esquecer as grandes causas: defendeu acerrimamente a Língua de Camões, opondo-se tenazmente ao novo AO, o que lhe valeu alguns dissabores. Homem de quanto muito torcer, mas nunca quebrar, jamais virou a cara a esta luta que considerava fundamental para a preservação da nossa identidade.
Foi secretário de estado de vários governos e, como militante do PSD, foi eurodeputado, pelo que, como facilmente se compreende, nunca caiu nas boas graças de uma certa intelectualite portuguesa, bem como num sector da opinião publicada. Assim, não é de estranhar o presente silêncio dos partidos da esquerda, começando pelo PS e terminando no BE. O maniqueísmo instalado nas cabeças pensantes desta esquerda (caviar e não só) levam-na a ter estes comportamentos aberrantes.
Já agora, quem nas escolas, principalmente as que leccionam o secundário, se lembrará, ao menos hoje, de falar de algumas das obras deste grande dramaturgo? E, já agora, porque não ler, pois tantas coisa belas escreveu?
Também eu, embora de forma muito mais modesta, por convicção própria, mas também por homenagem a este e a outros grandes defensores da pureza da Língua Portuguesa – em que, por exemplo, fato é algo que se veste e não um acontecimento - continuo a escrever de acordo com a antiga grafia e se em documentos oficiais procedo em contrário é porque uma lei anacrónica, com a qual de todo não concordo e acho abjecta, a isso me obriga.