Na continuação do texto anterior, chamo a atenção para um facto indesmentível: nos últimos anos, em especial na última década, começámos a tomar consciência que a paisagem campestre estava em risco, fruto do abandono das actividades agrícolas e da diminuição da população das comunidades rurais mais pequenas.
A actividade agrícola e florestal nestas zonas está, conforme dizia anteriormente, fortemente condicionada pela pequena dimensão, pela deficiente organização e pela concentração da distribuição. O abandono da actividade agrícola resulta de um estrangulamento económico que “obriga” à migração das populações para centros urbanos de maiores dimensões.
Assim, de uma maneira geral, os proprietários são cada vez mais ausentes e a actividade agrícola tem um peso cada vez menor no rendimento das famílias. Esta nova tipologia de proprietários carece de uma “nova” abordagem por parte dos actores “rurais”.
Por outro lado, o abandono traduz-se num aumento dos efeitos nocivos de pragas, doenças e dos incêndios florestais (mais difíceis de combater devido ao aumento da carga combustível), o que reforça a necessidade de delinear estratégias que fomentem o dinamismo destas actividades rurais.
Nota-se, porém, mercê do desemprego e da crise provocada pela austeridade, um regresso, ainda que ténue, ao “mundo” rural. Contudo, tenho receio que isto seja um fenómeno de pouca dura, pois, a não se inverter o ciclo de apoios, prevejo que aquando da retoma económica, novamente nos venhamos a confrontar com o êxodo rural. E quando falo de apoios não me refiro concretamente a dinheiro dado directamente aos que labutam a terra, mas sim no acesso, em igualdade de circunstâncias, aos meios que hoje-em-dia são comuns aos cidadãos que vivem nos grandes centros populacionais: internet com boa velocidade, televisão por cabo em vez de satélite, gás canalizado, entre outros.
Como diz o nosso bom povo: para grandes males, grandes remédios. Nas zonas onde o abandono é uma realidade irrefutável, talvez a solução seja uma “cooperação” efectiva desde o início do processo produtivo e que garanta ao pequeno agricultor que o resultado final é aceite pelo mercado e tem condições para ser escoado.
Ser pequeno não é defeito. É, antes, uma virtude, pois permite dar atenção aos detalhes, como a qualidade, a segurança e o ambiente.