Quem é que, geralmente, entra numa discussão e não quer levar a sua avante? Em boa verdade, os portugueses têm um velho preconceito do a favor e do contra, do certo e do errado. Contudo, raramente fazem um esforço sério no sentido de, com justiça e equidade, verificar o que deve merecer o apoio ou a oposição, onde está o correcto e o equívoco. E, como é óbvio, muitas vezes,infelizmente, também assim procedo.
Tenho afirmado, por variadíssimas vezes, que em Portugal se trabalha pouco – não confundir com estar muitas horas no serviço – e, sobretudo, se produz pouco e mal. No entanto, também não deixa de ser verdade que muitos de nós trabalhamos pouco porque não nos valorizam o suficiente - não tem forçosamente a ver com remuneração - e, principalmente, pagam-nos mal e tardiamente.
Ora, o capítulo 24, versículos 14 e 15, do Livro do Deuteronómio, versa sobre o baixo salário dos pobres: Não oprimirás o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos ou seja dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas. No mesmo dia lhe pagarás o salário e isso antes que o sol se ponha; (…) para que não clame contra ti o Senhor.
Contrariar esta lei ou ir contra ela é considerado, pela tradição, um dos maiores pecados. Não consta, em qualquer era da história, que tenha havido uma civilização feliz e fecunda a espremer os mais pobres, tal como tenho a certeza que para Portugal possa ser actualmente a receita ideal.
Todos conhecemos quadros de topo e sem ser de topo que ganham ao nível dos países mais prósperos. Sabemos igualmente que os salários mais baixos foram sempre mais baixos que os de alguns países mais pobres da Europa. Por isso, tenho a certeza de que não é certamente baixando ainda mais os salários baixos, aumentando consequentemente o leque diferencial, que a economia e o emprego vão florescer.
Não é utopia, é antes coerência, afirmar que alguns salários altos, pelo contrário, deviam baixar. Neste tempo de Quaresma, em que uma lufada de misericórdia deve varrer o mundo, os valores humanos devem sobrepor-se aos princípios económicos. Tanto mais que apenas o amor permanece. O resto tudo passa!