O outro dia vi e ouvi, na televisão, alguém, não ligado directamente à educação, muito sorridente e com ar feliz, dizer “as nossas crianças começam com alegria a serem diferentes desde muito cedo”, acrescentando, de seguida, que “este é um projecto que as ajuda a destacarem-se e que lhes ensina que é importante sonhar que se vai ser grande”.
Bem sabem, os meus leitores, o que penso dos projectos, sobretudo, daqueles dedicados e pensados numa vertente escolar. O eduquês ainda não terminou, bem pelo contrário.
A Escola deve ser um lugar onde se ensina as mais variadas áreas do saber, como maior ou menor profundidade, consoante o grau que se ministra e a idade dos discentes. Tudo o que vá para além disto é subverter a Escola, é fazer desta uma comunidade onde cabe tudo e pouco ou nada se instrui. Já lá diz o ditado “quem tudo quer, tudo perde”.
Dizer que a Escola é um lugar onde se educa, retirando esta enorme responsabilidade aos pais, se habilita para tudo – sexualidade, prevenção rodoviária, literacia financeira, empreendedorismo, igualdade de género/parental, entre tantas outras matérias – faz com que a mesma se disperse a acabe por não dar importância ao essencial.
É evidente que esta sintomatologia já foi muito pior. No entanto, ainda existem resquícios que urgem arredar. A avaliação de desempenho dos docentes tem de deixar de passar por demonstração de evidências, as quais, na sua grande maioria, nada mais são que fruto de delírios e apenas gastam dinheiro e, sobretudo, impacientam até o mais santos dos santos, retirando tempo para o fundamental.
Por último, enganem-se aqueles que julgam que isto se passa longe. Ainda hoje ouvi dizer “eh pá, com tantas actividades não só não conseguirei cumprir o programa, como não consigo sequer um dia para fazer o teste”.