Um tema ou um livro pode estar, parágrafo a parágrafo, página a página, cronologicamente muito bem exposto, mas se não revelar as radiografias das personagens, a textura das imagens e, principalmente, a descrição nua e crua, bela ou macabra dos factos, é conveniente, então, que o autor dedique o seu tempo a outra coisa qualquer.
Saber “vender” um texto/livro é desnudar a alma e despojar-se dos talentos. É, em suma, mostrar o lado mais obscuro, não no sentido negativo do termo, mas no eu não descoberto. As palavras escritas devem levar o leitor a testar as suas certezas, a colocar em causa os seus usos e costumes, a procurar se o relatado se adapta ou não a si e se as oportunidades efectivas se coadunam com o seu perfil.
Um autor que não desmistifique o que escreve, colocando na(s) personagem(s) muito de si, não entende a essência da escrita e, acima de tudo, não percebe que terá de haver uma simbiose quase que perfeita entre si e o leitor. Não são estes que apenas se têm de adaptar à forma e estilo daquele, pois há que reduzir as barreiras, sem, no entanto, se aniquilar e muito menos abastardar.