O conceito, já por mim anteriormente abordado, do aproveitamento das pessoas que entram na senioridade é, muitas vezes, analisado num sentido tão lato que perde objectividade. Todavia, quando apenas se pretende observar pelo lado da idade, sem considerar outras variáveis, tais como níveis de formação, de competência, de experiência, profissional e, sobretudo, capacidade de ajustamento e potencial de crescimento, também se cai no lado oposto, i.e., do reducionismo, senão mesmo da negação.
Por exemplo, Fernando Tordo, durante a semana passada, foi capa de jornais e entrevistas em horário nobre da TV apenas porque, aos 65 anos, decidiu ir trabalhar para o Brasil, afirmando “não aceito esta gente, não aceito o que estão a fazer ao meu país, não votei neles e não estou para ser governado por este bando de incompetentes”, fazendo a rábula do emigrante português coitadinho, cujo país não o sabe aproveitar, argumentos que o seu filho – escritor de bem na vida – acabou por exponenciar através de uma carta de fazer chorar as pedras da calçada. Esqueceu-se, todavia, de dizer ao que ia: dirigir o cartaz musical de uma grande casa de diversões nocturnas, com um acordo milionário.
Importa, portanto, nesta estória, o que veio a seguir. E o que veio a seguir jamais Fernando Tordo imaginaria que viesse a público. Aliás, estou perfeitamente convencido que, hoje, caso pudessem, tanto ele como seu filho, pagariam para que todo este enredo de novela barata ficasse no segredo dos deuses e não tivesse chegado ao domínio público.
Vamos aos factos. Fernando Tordo tem auferido rendimentos bem chorudos ao longo dos últimos anos, principalmente entre 2008 e 2011, com contratos de centenas de milhares de euros com câmaras municipais. Porém, como é sabido a crise toca a todos e, ultimamente, as autarquias tem fechado esta torneira. Ora, quem em tempos de vacas gordas não poupou agora, quando elas estão … como estão(!), é evidente que não tem. Culpa do governo? É lógico que não, apesar de ter muitas outras responsabilidades.
Mais grave ainda, foram os espectáculos patrocinados pela ONG, liderada pela sua mulher, no valor de dezenas de milhares de euros, o que, para além de outros problemas, sobressai o da ética. Contudo, sobre este item, para as pessoas de esquerda a ética só se aplica à direita (reacionária e caceteira), já que elas encontram-se acima de qualquer suspeita.
Por fim, alguém tem culpa de que Fernando Tordo tenha enveredado por um percurso musical que não seja do agrado público? Já viram José Cid, Paulo de Carvalho e tantos outros queixarem-se? E imaginem o que seria atribuir uma reforma condigna – na ordem de milhares de euros, claro está – a todos aqueles que não obtêm sucesso na sua carreira, independentemente da sua designação, apenas por insistirem num caminho que o público rejeita?